domingo, 29 de outubro de 2006

Achados da Botica

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Hoje à tarde fomos à Botica observar os trabalhos que lá estão a ser desenvolvidos por arqueólogos no sentido de averiguar se há vestígios do tempo dos romanos ou ainda anteriores, ou se os trabalhos da nova subestação eléctrica podem avançar. As ilustres opiniões dividem-se, mas ficaremos por cá a aguardar o resultado desta investigação.


 

sábado, 28 de outubro de 2006

Ponte de Ruivães

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Hoje apresentamos a Ponte Pequena que serve a EN 103 e todos os que através dela querem passar o Ribeiro do Toco, no lugar da Tojeira e que apesar de a maior parte das vezes nos passar despercebida, é muito útil. Descobrimos ainda um pormenor interessante na referida ponte que é a data da sua construção pelas obras públicas em 1880, facto que se confirma por esta ultima fotografia de um dos marcos que servem de guarda lateral à ponte.

Estrada Nacional 103

A propósito da EN 103, tão útil a todos os ruivanenses, vale a pena ler as alegações e contra-alegações de quem pensa como nós; em três momentos, para irmos pensando em resolver esse assunto.

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Ponte de Frades

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Ainda a Ponte de Frades, mais ou menos da mesma zona que as últimas.


 


"quando fotografava diziam-me que qualquer dia ainda levo a ponte para casa; quem sabe ..., quem sabe."

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

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O vale formado pelo Rio Saltadouro, com casas de Espindo e Vale, à esquerda e à direita, respectivamente.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Ruivães nas Invasões Francesas IV

A Conclusão da Retirada do II Corpo

A última tropa de Soult a passar a Ponte da Misarela e a deixar aquele cenário de morte e horror, foi a brigada Reynaud da divisão Merle, entre as dez e a meia-noite de 16 para 17; na tarde de 16 o Marechal atingira Paradela, onde estabelecera o seu quartel-general.






«Wellesley, então, desistiu de qualquer esperança em apanhar o II Corpo … ele fez alto com a infantaria britânica em Ruivães e mandou apenas em perseguição da hoste fugitiva o 14.º de dragões britânico e a divisão Silveira».



Sendo a vereda imprópria para a Cavalaria e apenas normalmente utilizável para elementos apeados, Silveira tomou a dianteira dos perseguidores:



«Os franceses tinham desaparecido e foi apenas na manhã seguinte (de 17) que Silveira os seguiu no caminho de Montalegre. Ele capturou vários retardatários na marcha, mas ao chegar à pequena povoação (de Montalegre), viu que a retaguarda de Soult tinha já partido duas horas antes».



Na verdade Soult, partindo de Paradela a 17 para norte, foi saqueando e destruindo as pequenas povoações que encontrou a caminho da fronteira. A fim de melhor se esclarecer sobre o seu flanco direito e prevenir alguma acção de Berestord a partir de Chaves a Boticas, ele próprio marchou com uma divisão de Dragões pela linha de alturas do Gerez divisória das águas do Cávado e do Rabagão. (ver croqui em baixo)

Também neste trajecto em terreno particularmente pobre em recursos as suas tropas tiveram que disputar à boca dos habitantes o alimento, por exíguo que fosse, para enganar a fome, sendo assim assaltadas e destruídas as povoações de Covelo do Gerez, Paradela, Loivos, Fiães do Rio, Vilaça, Coutim, Cambezes e Montalegre, cujos habitantes refugiados na serra, incessantemente perseguiram e atacaram os franceses.

Tal era o ódio contra o estrangeiro invasor que, anos depois, ainda alguns lavradores da região usavam nas suas camisas domingueiras botões feitos de osso de franceses, com a palavra LADRÃO gravada!

Chegado à deserta povoação de Montalegre na tarde de 17, Soult fez avançar Loison até ao desfiladeiro de Cortiços e enviou um destacamento de Dragões em reconhecimento pela estrada de Verim, enquanto que o grosso do 1 Corpo passava o Cávado na ponte da vila e ia bivacar na planície fronteira da margem direita.

Na retaguarda ficou a divisão Franceschi, reforçada com o 47. ° de Infantaria.



«Na noite de 17 para 18 avistámos sobre as alturas das montanhas as fogueiras do inimigo, mas vinha muito tarde para nos cortar a retirada»



Eram as forças de Silveira, bivacadas sobre as alturas que dominavam Montalegre, que só no dia seguinte entrarão na pequena vila fronteiriça.

Na manhã seguinte a 18 de Maio, seguiram o caminho, em marchas forçadas, os 15213 homens que Soult salvara da sua expedição a Portugal com 2000 cavalos (dos 4700 iniciais). Atingem Guinzo onde pernoitam e a 19 entram exaustos, famintos, rotos e descalços em Orense, onde se lhes juntam os 3500 homens que sob o comando do General Lamartiniére tinham permanecido em Tuy.

Era um exército de maltrapilhos, sem Artilharia, com a disciplina seriamente diminuída e o moral abatido:



«A chuva contínua a os caminhos detestáveis pelos rochedos tinham destruído o calçado da infantaria; após oito dias, a maior parte dos soldados não tinham vivido senão de milho assado. Por isso um grande número de ente eles tinham morrido não podendo resistir a todas estas privações.

Muitos ficaram pelo caminho com a certeza de serem assassinados, mas não podendo mais andar não escutavam qualquer súplica para que continuassem.

O moral da infantaria foi muito afectado durante esta retirada, porque esta arma sofreu muito mais do que nós (o Autor era Oficial de Dragões).

O Marechal determinou que cada regimento de cavalaria tomasse 50 infantes doentes, que se montavam nos cavalos e conduzíamos à mão.

Carregados com a sua mochila, a sua espingarda colocada horizontalmente sobre a frente do arção, algumas espigas de milho a tiracolo ao lado de um pequeno odre de pele de cabra vazio, ter-nos-iam em outras circunstâncias divertido bastante, mas os seus semblantes pálidos e desfeitos e os seus pés nus e ensanguentados não nos permitiam guardar senão um sentimento de piedade».



Era este o quadro simultaneamente pitoresco e dramático que era vivido pelas tropas do II Corpo, salvas da total destruição pela vontade férrea e capacidade de chefia do Marechal Soult.

Contudo Adolfo Tiers é bastante severo para com o Duque da Dalmácia; comentando esta sua retirada ele escreve:



«Apesar de tudo que posteriormente se disse, a Capitulação de Sintra após a batalha do Vimeiro travada valentemente ainda que perdida, custou menos à glória do exército e ao seu efectivo que a surpresa do Porto, destruição da nossa artilharia em Penafiel e esta marcha precipitada através desfiladeiros da província de Trás-os-Montes.

O estado moral das tropas correspondia ao seu estado material».



Beresford, que entrara em Chaves na madrugada de 17, lança na manhã de 18 as brigadas Tilson e Bacelar pela estrada de Chaves para Monterrey.



«Na esperança de que Soult depois de passar a serra do Gerez, pudesse tomar a estrada Monterrey — Orense.

Mas o Marechal não tomou este caminho: ele manteve, na vereda o marchou por Porquera e Allariz à esquerda da linha na qual Beresford orientou a sua perseguição».






Estas forças atingem Guizo a 19, quando Soult estava já em Orense.

Silveira, na perseguição do II Corpo para norte, segui-o pelo caminho que de Montalegre vai à povoação de Padroso e passando junto ao Cabeço de Lamas a mais de 1200 metros de altitude, atravessa a fronteira; avançou até S. Tiago dos Místicos onde recebeu ordem de Wellesley para regressar, tendo entrado em Montalegre a 19 para seguir dali para Chaves onde entrou a 20 de Maio de 1809.

Deixando atrás de si um rasto de destruição, sangue e morte, assim acabou a «bela expedição» a Portugal, como se lhe referia o próprio Napoleão nas instruções para a sua execução.

Tendo perdido 27% dos efectivos com que violou a fronteira para pisar a Terra Lusitana, Soult deixou mortos ou aprisionados cerca de 5700 homens, dos quais 2000 perdidos nesta terrível retirada entre Baltar e Montalegre.



Prisioneiro no interior da sua própria conquista, batido sem que se tivesse empenhado em qualquer grande e decisiva batalha, obrigado a destruir a sua artilharia e a largar o produto das suas rapinas, levado a uma retirada humilhante e precipitada através de caminhos ínvios para um exército, descalço e esfarrapado nos seus uniformes, faminto e atirado para um estado moral lastimável, eis a triste situação a que foi reduzido o II Corpo do Grande Exército!

Essa tropa de élite, que no planalto de Pratzen, enebriada pelo sol da glória, dobrou a força de dois Impérios e conquistou com os seus sabres e as suas baionetas ensanguentadas a mais fulgurante e estimável vitória para as águias napoleónicas, veio aqui ao norte de Portugal morder o amargo fruto da derrota, imposta não por grandes exércitos, mas sobretudo pela tenacidade sem limites, pelo sacrifício sem reservas e pela coragem sem vacilações da humilde gente rural, apoiada por alguns Militares e conduzida pelo General Silveira.



No período que sucedeu às lutas liberais, nem sempre se fez justiça a toda esta luta contra o Invasor, a todo este sacrifício em favor da Pátria.



A figura militar do Tenente-General Francisco da Silveira continua praticamente afastada das galerias das nossas unidades e as praças das nossas cidades foram bem mais pródigas em estátuas e placas de Generais mais políticos que militares, mas com menos projecção nacional que Silveira, sem dúvida o Militar mais notável do Exército Portugues durante as campanhas da Guerra Peninsular.



Não terminou com a 2 Invasão Francesa a actuação Militar do General Francisco da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira:

— A 10 de Agosto de 1810, Silveira reconquista a vila leonesa de Puebla de Sanábria, ocupada em finais de Julho por tomas francesas que bateram o General espanhol Taboada; após 10 dias de cerco e de combates, em que se salienta o recontro do Outeiro (onde se distinguiu o Cap. De Cavalaria 12, Teixeira Lobo) o inimigo rendeu-se entregando nas mãos de Silveira 400 prisioneiros, material de guerra e uma insígnia imperial de um Batalhão Suíço.

— Desde o inicio de Setembro até meados de Novembro, bloqueia a praça de Almeida, recém-conquistada pelas forças de Ney, retirando prudentemente para Pinhel à aproximação da Divisão Gardanne que acorreu em socorro da praça e pretendia posteriormente juntar-se às forças de Massena.

— A 24 de Novembro na região de Valverde, ataca a Divisão Gardanne que obriga a retirar, deixando no terreno mais de 300 mortos.

Distinguem-se nesta acção plena de sucesso o Coronel das Milícias de Moncorvo António Manuel de Carvalho e os Majores de Cavalaria 12 Luís Paulino e Teixeira Lobo, ambos feridos no combate. O General Gardanne foi obrigado a suspender a sua marcha para se juntar a Massena detido nas Linhas de Torres Vedras, e a regressar a Espanha; Silveira actuou com os Regimentos 12.º de Cavalaria, 24.º de Infantaria e os de Milícias de Moncorvo e Bragança.

— A 31 de Dezembro Silveira é batido com as suas pequenas forças transmontanas, pelos 8000 homens da divisão Claparéde do 9.º Corpo, de Drouet, na Ponte do Abade, onde perde 200 homens; mas retirando para norte do Douro consegue opor-se com sucesso, durante todo o rude inverno de 1810-1811 às tentativa, de Claparéde para passar o Douro afim de recolher provisões no rico Entre-Douro-e-Minho para o faminto exército de Massena.

Travam-se então vários combates ao longo do Douro, nomeadamente no Pocinho, na barca da Régua e na Vila da Ponte, onde os franceses foram sempre repelidos.

— A 28 de Junho de 1811 é agraciado pelo Rei D. João VI com o título de Conde de Amarante, por Carta Régia dessa data e em face dos altos serviços prestados é promovido a Tenente-General em 5 de Fevereiro de 1812.

— Em 1813, durante a Campanha do Sul da França, Silveira assume o comando da divisão do General Hamilton, a qual tem uma acção importante no ataque a Tormes a 25 de Maio.

— A 21 de Junho, na batalha de Vitória (60 000 franceses contra 80000 aliados) a Divisão Silveira (única Divisão portuguesa na batalha), envolvendo a esquerda do inimigo caiu-lhe sobre a retaguarda pondo-o em fuga desordenada e capturando parte da sua Artilharia, bagagens e o célebre tesouro do Rei José Bonaparte.

— Toma parte nas batalhas dos Pirinéus de 28 e 30 de Julho de 1813, onde as suas tropas se destacaram, levando Beresford, sempre bastante reservado em relação a Silveira, a escrever na O. D. de 11 de Agosto: «O Sr. Marechal felicita S. Ex.ª o Tenente-General Conde de Amarante pela brilhante conduta da sua divisão...»

— O General Silveira foi condecorado pelo Governo Inglês com a Medalha de Ouro de Comando em Vitória, de que apenas foram cunhados três exemplares, cabendo um deles ao próprio Wellington, e pelo Rei de Espanha foi-lhe concedido o título de Grande de Espanha e a comenda da Grão Cruz da Ordem de São Fernando.

— D. João VI atribui-lhe a Grão-Cruz das Ordens de Cristo e da Torre e Espada e ainda o título de Grande de Portugal, que junta ao, anteriormente já concedido, de Conde de Amarante.

— Faleceu o Herói a 28 de Maio de 1821 na sua casa em Vila Real de Trás-os-Montes, com testamento de 25 do mesmo mês, de que foi escrivão o pároco da freguesia de S. Dionísio, P. José Botelho de Sousa, e registado a págs. 103 a 106 do Livro de Testamentos da mesma freguesia, actualmente na Conservatória do Registo Civil daquele distrito.

Os seus restos mortais descansam em sepultura própria, na Capela do Espírito Santo da povoação de Canelas do Douro.



Em memória e homenagem a este General e a todos os obscuros Heróis e Portugueses que, numa Pátria invadida, moribunda e arruinada, não desistiram e souberam lutar, foi dispendido o esforço deste trabalho.







Retirado do livro “As populações a norte do Douro e os Franceses em 1808 e 1809”, da autoria de Carlos de Azeredo, editado em 1984 pelo Museu Militar do Porto.

Serra da Cabreira

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terça-feira, 24 de outubro de 2006

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Ponte de Frades

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De novo a Ponte de Frades e de novo junto ao Penedones.

Estrada Nacional 103

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A Estrada Nacional 103 atravessa a freguesia de Ruivães desde a Devesa até Paradinha e é de vital importância para todas as freguesias vizinhas que por ela se servem. Este artigo, com esta fotografia, pode bem significar o inicio desta semana, pois é através desta estrada que segunda-feira tudo começa para aqueles que cá residem.


 


Boa semana!!!


 


NOTA: Este marco só menciona a estrada e o quilometro, mas antes de estar pintado, pode-se ver no relevo, mencionava a distância a Ruivães - 2 km; agora está a 1, no meio da recta da ponte.

Apontamento

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Infelizmente terminamos este fim-de-semana com mais um apontamento de uma coisa que vai mal na EN 103 e que é este muro entre a Roca e a Ponte que foi mexido por um carro desgovernado e que ainda não foi restaurado, se calhar à espera que as pedras "tombem" para as leiras em baixo e depois restaurem o muro com cimento, um muro com alguns anos de história!!!

sábado, 21 de outubro de 2006

Ponte da Mua

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No capítulo das pontes existentes em Ruivães, por vezes esquecemos esta que, para além das bases laterais, praticamente já não existe. Foi substituída por um aqueduto um pouco mais abaixo, sobre o qual passa a EN103, mas até há pouco mais de 100 anos era sobre a Ponte da Mua que passava a via romana que ligava Braga a Chaves.


 

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

 


Para seguir esta ligação e ver a Ponte da Misarela numa volta de 360º.

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Panorâmica de Zebral (parte), da Vila e de Vale lá no fundo, com a Serra do Gerês por trás, tudo isto do estradão florestal que liga Zebral ao Talefe.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Ruivães nas Invasões Francesas III

A Ponte da Misarela

É numa paisagem estranha, no fundo de um desfiladeiro rasgado no flanco da Serra da Cabreira, entre escarpas medonhas, bravias e solitárias que se ergue a inesperada Ponte da Misarela!

Com o seu tabuleiro lajeado, estendido a cerca de 30 metros e dobrado sobre o fecho de um único arco de 12 metros de altura, a sua idade vem da sombra dos tempos e a crença popular afirma que na sua origem está um pacto maldito firmado entre um padre

e o próprio Diabo.

Por debaixo de si, escumando e despedaçando-se contra a penedia abrupta, passa o Rabagão, grosso no Inverno e no Estio enfiado, a caminho do Cávado.

Entrincheirados na margem direita, guardando a ponte, cuja passagem estava barrada por pesados obstáculos, estavam cerca de 400 homens, comandados pelo Sargento-Mor José Maria de Miranda de Magalhães e Meneses, filho do Capitão-Mor de Ruivães.

Mandado na véspera para a Misarela, por seu pai, com a incumbência de cortar a ponte e efectuar a sua defesa, o José de Miranda não conseguira convencer a maior parte dos seus homens, naturais dali da região, da absoluta conveniência em cortar o arco da ponte.

Como haviam de passar o rio com as suas colheitas ou os seus gados? Como passar para irem à feira ou a Ruivães, quando as águas fossem grossas? Para mais o que era necessário era pôr fora da nossa Terra os franceses! Para quê cortar-lhes a passagem para a fronteira? Quem fez a Ponte de Misarela não nos faz outra como ela!, e nada deste mundo demoveu os rijos e casmurros montanheses a deixar cortar a sua Ponte.

Consentiram em que fossem derrubadas as guardas o atulhado o tabuleiro com troncos, penedos e obstáculos de toda a ordem, mas não mais do que isso.

Impotente, o Sargento-Mor dispôs as suas forças pelas escarpas que dominavam a passagem, abrigadas atrás da penedia e dos robustos castanheiros e carvalhos que ali cresciam.

A meio da manhã foram avistados os primeiros militares inimigos avançando rapidamente para o Rabagão; eram urna longa fila, interminável, de homens e animais, fatigados, que marchavam para norte acossados, mas que a fome, o número e o ódio ainda mantinham temíveis, perigosos e violentos.

Assim que a guarda avançada do II Corpo chegou à distância de tiro, os defensores romperam com um fogo nutrido que dizimou o pelotão da frente e fez recuar, surpreendidos, os que se lhe seguiam.



«Para chegar à Ponte era necessário subir o vale entre um precipício no fundo do qual corre a ribeira, e uma massa de rochas a pique, na base das quais passa o caminho que tinham obstruído com abatizes; por consequência era-se forçado a desfilar, a descoberto, diante dos Portugueses que, entrincheirados por diferentes alturas do outro lado da ribeira, tinham uma enorme vantagem. Por isso os primeiros atiradores recuaram e preveniram o marechal do obstáculo que se tinha encontrado, o que o determinou a vir à frente».



Soult, uma vez nas proximidades da ponte, estudou a situação cuidadosamente e encarregou os Generais Loison e Heudelet de montarem e executarem um ataque a fim de tomar à viva força a passagem e as posições portuguesas.

Os dois Generais após uma curta conferência, incumbiram a brigada Graindorges de atacar e assaltar o inimigo, e novamente o Major Dulong carregou à frente de uma força composta pelos atiradores da Guarda de Paris, um batalhão do 15. ° de Infantaria Ligeira e um outro do 32. ° de Infantaria Ligeira.

Após vários assaltos frustrados que se prolongaram ao longo do dia 16, esta força logrou ao fim da tarde conquistar finalmente a passagem e desalojar das posições mais próximas os camponeses, isto a troco de algumas dezenas de mortos que os zagalotes certeiros dos populares e das Ordenanças ali causaram; um dos feridos por uma bala na cabeça, ainda que sem gravidade, foi o próprio Major Dulong Rosnay.

Vencida esta dificuldade, com bastante perda de tempo, pouco descanso tiveram as tropas de Soult para admirar a beleza da paisagem, que Le Noble nos descreve de forma apaixonada, não obstante a posição difícil em que se encontrava o II Corpo.

Com efeito pouco depois de ter sido conquistada a ponte da Misarela o Marechal Soult atravessou para a outra margem e ali, vendo passar os seus homens, aguardava que a guarda da retaguarda chegassem a fim de se integrar novamente na coluna de marcha, no seu lugar, quando vindo lá detrás, subitamente, se ouviu o troar do canhão e forte fuzilaria. Mas demos a palavra a Le Noble, o qual no seguimento da descrição do local e da sua bela paisagem, escreve:



«Tinha esta paisagem pitoresca chamado a nossa atenção, quando fomos levados à realidade dos acontecimentos militares, mais pelo assobio das balas, que pelo ruído dos tiros das espingardas que os frades e os habitantes atiravam das alturas ... Sendo a passagem do ponte da Misarela mais estreita que e da Ponte Nova (ou do Saltadouro) houve emassamento ente as duas».



Na realidade a largura exígua da Ponte da Misarela agravada pela destruição das suas guardas, dificultava a passagem, com grandes demoras causadas pela resistência das mulas e dos cavalos que se apavoravam com o abismo. É ainda preciso ter em conta o grande alongamento imposto pela vereda que obrigava as tropas a desfilarem em frente por um, facto que levava a que o II Corpo tivesse já a sua testa para lá da Ponte da Misarela enquanto a sua retaguarda se mantinha entre Salamonde e a Ponte do Saltadouro.

A demora na passagem da segunda ponte obrigava a que a coluna tivesse grande parte da sua extensão completamente parada.

Ao ouvir-se na retaguarda o troar da Artilharia e basta fuzilaria, as tropas imobilizadas, sem poderem manobrar para se defenderem, e sentindo-se completamente indefesas caíram no pânico.

Muitos homens, ainda na vereda, procuravam avançar a todo o custo empurrando os camaradas da frente, atropelando-se uns aos outros para chegarem às imediações da Ponte; na sua ânsia de escaparem de uma terrível situação lançavam fora armas e equipamento; os pobres animais famintos ou desferrados eram abatidos ou atirados pelas ravinas, tudo para que se desembaraçasse o caminho e a marcha; muitos homens na Ponte eram atirados ao abismo pelo aperto e pela confusão e aos animais que se recusavam a passar sobre a estreita passagem eram cortados os tendões acima dos boletos ou nos curvilhões.

Soult que tinha passado o rio desejava saber o que se passava na retaguarda para trás da Ponte do Saltadouro; o seu chefe de estado-maior, o General de Brigada Richard enviou para o efeito um Ajudante de Campo ao General Merle, que com a sua divisão vinha em guarda da retaguarda, mas aquele Oficial ao chegar à Ponte não pôde vencer o turbilhão humano dos soldados que em plena desordem procuravam passar, e acabou por ser atirado ao rio.

Foi uma situação terrível, que poderia ter-se transformado numa autêntica catástrofe se a noite próxima não viesse suspender os ataques dos perseguidores.

O ordenador Le Noble, mesmo minimizando o acontecido, conta-nos deste modo o sucedido:



«Às mulas e aos cavalos de baste que embaraçavam os homens cortavam-lhos os tendões do curvillião ou atiravam-nos nos precipícios.

Houve desordens e os papéis e bagagens salvas em Penafiel, perderam-se nesta passagem...

Dois esquadrões de cavalaria ligeira e uma brigada da 1.ª divisão saindo de Salamonde para descerem à Ponte (do Saltadouro), foram atacados por oito ou dez mil homens de infantaria, com artilharia, que tinham chegado em duas colunas, pela estrada de Braga e pela de Basto.

A dificuldade em formar e a obscuridade deram lugar a algumas desordens; uns trinta cavaleiros caíram com os seus cavalos no precipício, sem que os pudessem salvar».



Outro combatente francês descreve-nos assim esta ocorrência:



«Tinha-se à retaguarda um excelente regimento de infantaria ligeira (o 4.º de Infantaria Ligeira, um dos melhores do Exército Francês, segundo Oman), o qual, dada a natureza do terreno, poderia facilmente conter um exército inteiro: pois bem, à vista do inimigo debandou sem que o pudessem convencer a ficar.

A confusão que resultou deste pânico estarrecido foi espantosa.

Infantes e cavaleiros precipitavam-se uns sobre os outros, atiravam fora as suas armas e lutavam para conseguir correr mais depressa.

A ponte estreita e sem parapeitos não podia satisfazer a impaciência dos fugitivos, que se empurravam de tal modo que um grande número de homens foram precipitados e afogados na torrente, ou esmagados sob as patas dos cavalos.

Se os Ingleses estivessem em estado de aproveitar este terror, não sei em verdade o que nos teria acontecido, de tal modo o medo é contagioso mesmo entre os mais bravos soldados»



Mas a sombra misericordiosa da noite veio pôr fim a este verdadeiro holocausto, e as restantes tropas do II Corpo puderam, mais acalmadas, continuar durante toda a noite a passar a fatídica Ponte da Misarela; Silveira e Wellesley suspenderam as operações de perseguição e ataque retaguarda de Soult.

Quando na manhã seguinte os perseguidores de Soult se aproximaram da Misarela, encontraram um espectáculo que lhes deu a dimensão do terror e da tragédia por que tinham passado os franceses:



«O leito rochoso do Cávado (trata-se na verdade do rio Rabagão e não do Cavado, conforme escreve por lapso Lord Munster) apresentava um espectáculo extraordinário.

Homens o cavalos, animais decepados e bagagens, tinham sido despenhados no rio e juncavam literalmente o seu curso.

Aqui, nesta fatal companhia de morte e angústia, foi vomitado o resto do saque do Porto.

Toda a espécie de bons e de valores foram abandonados na estrada, enquanto mais de 300 cavalos boiavam na água e mulas ainda carregadas com bagagens foram içadas pelos granadeiros e pelas companhias ligeiras Guarda; estes desembaraçados e bons rapazes descobriram que pescar caixas e corpos da corrente poderia proporcionar-lhes moedas de prata, e boina ou cintos cheios de moedas de ouro, e, entre cenas de morte e desolação, subiam os seus gritos da mais ruidosa alegria».



Estranhas cenas estas, tão antigas como a própria guerra; em que o homem confrontado com o brilho inimitável do ouro se torna insensível, às maiores desgraças e às mais tétricas situações!





(continua na próxima quarta-feira)

Ponte de Frades

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Depois de a termos fotografado intensamente ao nivel da barragem no verão passado, voltamos a fotografar do caminho para a Misarela (Penedones). O tempo frio dá nisto.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Em Ruivães, nada vai bem!


Acabado de regressar de férias em Ruivães, não posso deixar de fazer uma análise ao que me foi dado ver, que de bom, pouco foi. Com estes reparos, não pretendo ferir susceptibilidades, nem dizer mal por dizer, mas apenas criticar o que é criticável, com o intuito de assim contribuir para a reparação das anormalidades aqui apontadas.
O mês de Agosto, predilecto para férias e ainda mais com a aliciante da festa anual, sempre povoou Ruivães fazendo lembrar a vila doutros tempos, com as ruas cheias de vida, contrastando com a monotonia dos restantes meses do ano. Porém, a tradição já não é o que era, pois de ano para ano são cada vez menos aqueles que voltam para gozo de férias na nossa aldeia. Sobram dedos das mãos, para contar os emigrantes que vieram à terra em Agosto, e imigrantes como eu, poucos mais seriam. Ou os ruivanenses escolheram outros destinos para férias, ou a vida está mesmo tão má, que prescindem delas seguindo o tal regímen de contenção. O que eu acho na realidade, é que incentivos para escolher Ruivães como local de férias, são cada vez mais reduzidos, e tende a piorar já que nada se faz para inverter este rumo. Quem é da terra e a visita esporadicamente, espera sempre descobrir algo de novo, mas... o que acontece é que o progresso passa ao lado. Em Ruivães, nada progride, antes regride, havendo por isso cada vez menos vontade de ali ir. Com quem é forasteiro, passa-se o mesmo, pois o que lhe é dado ver não deixa assim tão boa impressão, que fique com vontade de voltar. Alguns dos atractivos de que Ruivães dispunha, estão votados ao abandono. Quem percorre as ruas da vila, a cada passo se lhe deparam ruínas fantasmagóricas do que foram grandes casas, algumas solarengas, que podiam ainda ser recuperadas. Sabe-se no entanto, que mesmo em ruínas, os proprietários pedem por elas fabulosas quantias. É mesmo vontade de não fazer, nem deixar que alguém o faça! Tratando-se porém do património da vila, se os proprietários o não fazem, à Junta competiria tentar junto dos organismos do Estado que actuam nestas circunstâncias, requerer um estudo desse património. A partir daí, quem sabe se a exemplo do que tem acontecido em muitas aldeias do interior, não seria Ruivães candidata à recuperação e classificação como local de interesse público? Impõe-se que quem gere os destinos da nossa vila, no mínimo faça nesse sentido uma tentativa junto do IPAAR (Instituto Português do Património Arquitectónico), porque se nada dai resultar, pelo menos valerá a intenção! Através desse Instituto, o Estado, disponibiliza fundos a que qualquer autarquia se pode candidatar. Mas para isso, é necessário haver um contacto, um pedido de estudo, enfim dizer a esses Senhores que somos uma vila histórica em degradação, e temos muito património que precisa de ser preservado. Uma simples missiva que terá isso sim, de ser escrita por alguém. E... esse alguém, que a escreva! 

Manuel Joaquim F. de Barros




Noticia retirada d' O Jornal de Vieira nº 794 - 15/10/2006.

Saltadouro

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segunda-feira, 16 de outubro de 2006

domingo, 15 de outubro de 2006

O rio no Outono

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O tempo urge e como tal, ontem sentimos necessidade de ir rio abaixo, perto da Ponte Velha. Fomos até onde nos foi possível, já que o nível da água já está mais elevado do que no Verão; mesmo assim, para além destas duas fotografias do Rio Saltadouro, ficam estas duas do Ribeiro do Toco, bem perto da sua confluencia com o Saltadouro.


 


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sábado, 14 de outubro de 2006

Prados de Lagoas

















Hoje passamos para o lado de lá, para a Serra do Gerês, onde fizemos uma caminhada que começou em Cabril e nos levou aos Prados existentes lá no alto, nas Lagoas. Fizemos este percurso com o objectivo de o conhecer, pois era ele o utilizado para levar o gado a pastar para aquelas bandas entre os meses de Maio e Setembro. O gado era originário dos lugares da Vila, Vale e Frades; foi assim até há pouco tempo, mas actualmente só algumas pessoas de Frades usam este direito. Não sabemos ao certo mas provavelmente este percurso foi ainda utilizado pelos contrabandistas para passarem para a aldeia de Lobios em Espanha, através das Minas dos Carris.

Para nos guiar tivemos a preciosa ajuda do Martinho Dias de Frades, profundo conhecedor da zona. Esperamos voltar lá brevemente, agora que ficamos a conhecer o caminho.

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

Ponte do Saltadouro (antiga)

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Não haveria altura mais apropriada do que esta, para mostrar estas fotografias da velha Ponte do Saltadouro, palco de batalha nas Invasôes Francesas.



Fotografias cedidas por José Fernandes.





Ponte Nova e Ponte do Saltadouro tudo a mesma coisa. Vários cronistas e autores, nas suas referências, têm confundido os nomes desta ponte com as que existem próximo, nomeadamente com a ponte de Ruivães que dá passagem sobre o mesmo rio à Estrada Nacional nº 4, 1ª (Braga-Chaves), a qual ainda não existia à data das invasões francesas, como é obvio. A Ponte da Rês ou Ponta Velha é a antiga ponte romana que dava passagem à via militar Braga-Chaves-Astorga.

Também é frequente a confusão da Ponte do Saltadouro com a da Mizarela, 5 ou 6 quilómetros a leste daquela.

Mede a Ponte do Saltadouro 9 metros de altura e 23 de comprimento. É de cantaria e tem um só arco. Viçosas eras cobrem-na quase integramente, o que lhe dá um aspecto rústico muito bizarro. Foi reconstruída anos depois de ter sido cortada. Actualmente (1942) tem uma parte das guardas derrubadas e na extremidade oeste (lado de Salamonde) apresenta uma funda escavação, que um devoto do «Livro de S. Cipriano» abriu à cata de um tesouro escondido pelos franceses. Segundo nos consta, o explorador partiu de mãos a abanar... Os franceses, com a pressa de fugirem, não tiveram tempo de esconder tesouros, antes abandonavam pelos caminhos o produto das suas roubalheiras.

Com a abertura da Estrada Nacional n. 14 (1ª) esta ponte perdeu quase todo o trânsito.



Retirado do livro “O Mutilado de Ruivães”, páginas 149 e 150.