sábado, 15 de novembro de 2014

A história


Mais do que nunca sinto hoje necessidade de falar de ti e para ti Ruivães, de tocar as tuas gentes… Cada vez mais deserta e esquecida, vais desaparecendo sem que ninguém te erga, edifique, conte a tua história, faça de ti grande. Apenas alguns, como eu, que nasceram do teu “ventre” tentam fazer ouvir a tua voz. Alegra-me saber que ainda existe gente que te quer e ama e não te abraça mais porque a vida obriga a deixar-te em segundo plano. Fico tocada sempre que vejo que há alguém, como o presidente da junta de freguesia que pretende ver-te crescer, lutar contra a desertificação, mas infelizmente não tem meios. Sem ajudas não é possível caminhar. O cheiro da terra molhada, o doce sabor das lareiras acesas, a verdura extasiante das tuas paisagens, a simpatia, honestidade e verdade das tuas gentes. O acolhimento, a tua história e as tuas lendas. Os nomes raros de alguns dos habitantes, próprios e sobrenomes, têm muito de nobre e tão pouco estudado. Onde já se viu uma terra com tantos nomes históricos como “Romano”; Bárbara”; “Pereira”; “Gil”; “Silva”; “Fraga”, entre outros? São inúmeros os nomes que parecem fazer uma ligação ao judaísmo… e seria tão interessante ver um estudo sobre esta vertente! Muito do que se tem feito por Ruivães parte exclusivamente da vontade dos seus populares. A força e o orgulho de ser Ruivanense é, honrosamente, brilhante. É graças à população que hoje temos um quartel de Bombeiros na freguesia, que a escola e o infantário permanecem abertos, que a aldeia vai sendo divulgada ora pela escrita, ora pelos convites a amigos. É graças a esta boa gente que se vai sabendo que Ruivães, a Ponte da Misarela, o Pelourinho, a Casa de Dentro, a Ponte de Vale, entre outros, estão situados em Ruivães, Vieira do Minho e não no Gerês, como anunciam os panfletos distribuídos aos turistas. Este Verão fiz-me acompanhar de alguns colegas nas minhas férias em Vale, nos passeios habituais pelos recantos mais belos da aldeia e da freguesia, encontrámos um casal de ingleses. Numa conversa nada formal, verificámos um profundo reconhecimento e admiração pelo lugar. Mas também indignação pelo facto de existirem muito poucas indicações dos lugares a visitar. Algo confusos porque a indicação dada era de que esta terra fazia parte do Gerês, vimo-nos na obrigação de lhes explicar a história verdadeira desta terra. Um dos colegas que me acompanhava e não sendo daqui natural respondeu-lhes do seguinte modo: há belezas neste país que aos governantes nada dizem, porque daqui partem poucos votos, há pouca população activa e a riqueza económica destas regiões é insignificante. Mas acima de tudo parece haver uma clara falta de conhecimento histórica. Esquecem-se que no mundo há uma variedade de cores maior do que as partidárias. Ao sr. Presidente de Câmara gostaria de colocar algumas questões, mas acima de tudo uma: porque não tentar chamar o investimento para esta região, porque não seguir o exemplo de outras presidenciais de Câmara que lutam pelo bem dos seus. Veja-se o exemplo da Câmara Municipal de Ponte da Barca que lutou e conseguiu criar um parque industrial na Gemieira, uma aldeia pequena e tem hoje a “Cobra” como uma das maiores empresas empreendedoras. Era para nós essencial seguir o exemplo. Não poderia terminar este “desabafo” sem prestar uma justa homenagem a quem todos os dias luta contra o esquecimento desta “vila”, de alguma forma, de que são exemplo alguns nomes como: Zé (cabeleireiro) - que me conhece bem; ao Sr. Azeitono - amigo de longa data do meu pai; Sr. João - presidente da junta de Ruivães; ao meu falecido avô Amadeu Alves que muito fez por esta terra; Ermelinda Silva que faz ouvir a sua voz; ao meu pai Fernando Silva que reivindica o direito que esta terra tem no mapa. Muitos foram quase tudo e não foram nada. Outros chegaram perto do sonho mas o quase permanecia inalterável. Alguns tinham vontade e a vontade levou-os a alcançar o maior bem, o de ver alguma obra. Permaneça a vontade e vencer tornar-se-á mais fácil. A todos que como eu fazem ouvir a tua voz Ruivães, o meu muito obrigado!


Carla Fernanda Alves da Silva




Retirado d' O Jornal de Vieira nº 751 de 15 de Novembro de 2004

1 comentário:

Anónimo disse...

Estamos perante um texto tão realista, quanto cativante e que lemos com gosto, entusiamo e emoção.
Parabéns, muitos parabéns à Nobre Vila de Ruivães por ter filhos desta índole e com esta amor umbilical à sua terra e à terra dos seus antepassados.
Não fora este valioso espaço na internet e a Vila de Ruivães estaria mais ou menos votada ao abandono, pouco ou nada dela se falando.
O estudo sobre os nomes e os apelidos é um desafio interessante, que alguém há-de ouvir e, aceitando o repto, há-de levar a efeito.
Somente a união pode gerar a força e todos juntos não seremos demais para pugnar, cada um segundo a sua circunstância, pelo progresso e pelo desenvolvimento desta terra tão bonita, tão acolhedora, toda ela bordada de encantos.
Muitos parabéns a Carla Silva pelo seu excelente contributo em prol do desenvolvimento e do progresso de Ruivães.

Ruivanense Adoptivo