quinta-feira, 4 de agosto de 2005

Reviver o passado em Ruivães

Reviver o passado em Ruivães




 


Cont. da penúlt. edição




 


 




 


Para mim, porém vejo essa agressividade da Natureza com um tom de beleza carregada de mistério sim, mas bela na mesma pela imponência daquela cordilheira que cresci a admirar, e que da janela de minha casa espreitava quando ainda nem ao parapeito chegava. No Inverno então, quando a neve cobria a serra, pensava para mim que o Paraíso era ali!




 


Voltando ao meu observatório, à minha esquerda não me nos imponente, a serra da Cabreira verdejante como sempre, com o “Tôco” lá no alto, pertinho do Céu, qual cortina coloca da pelo Criador para protecção de Ruivães que se aconchega no seu sopé.




 


Completando o cenário, destaca-se ao fundo o lugar de Vale, já que Ruivães não se avista, e o Cemitério onde descansam os meus antepassados. Essa é a visão que mais me choca, mas evito pensar nisso, antes me embrenho nos outros trechos da paisagem.




 


Estendo-me sobre o rochedo, banhado pelo sol, fecho os olhos e aspiro o meu cachimbo deixando o pensamento retroceder no tempo, cinquenta anos atrás, até à minha infância vivida nesta aldeia.




 


Nessa altura, calcorreava os caminhos entre campos que me conduziam até aqui, em busca de ninhos, aos “choteiros” no tempo deles, ou simplesmente numa peregrinação em busca do desconhecido, pois acabada a escola, nada fazia e tinha de matar o tempo de qualquer forma.




 


Lembro-me destes campos tão férteis, onde se cultivava o milho, feijão, batata, etc. Hoje são matagais intransponíveis, imperam os fentos e as silvas.




 


Lembro-me da chiadeira dos carros de bois e dos gritos de incitamento aos pobres animais, que arrastavam pesadas cargas por estes caminhos de piso tão irregular, castigados ainda por cima por desumanas vergastadas e aguilhoadas. Mas tinha de ser, era a lei dos homens. Hoje nada define esses caminhos, intransitáveis, carros de bois já não há e até gado é uma raridade.




 


Tudo está diferente, agora é o silêncio que impera na vida campesina. Já não há desfolhadas nem vindimas com cânticos que enchiam estes ares de alegria, se vê vivalma, parece que os pássaros abalaram e não mais voltaram.




 


Lá no fundo, passa a estrada e é o ruído dos carros o único som que escuto nesta queda melancolia. Passam numa correria descrevendo as curvas como ranger dos pneus, e isso me faz voltar à realidade e concluir que este nada tem do Ruivães do meu tempo.




 


Tudo está diferente, mais civilizado, o progresso tomou conta da aldeia, mas nada disso me cativa. O que amo nesta aldeia, são os campos mesmo sem cultivo, a serra da Cabreira ainda que desfigurada por inestéticas hélices lá no alto, o rio, a pureza do ar que ainda por aqui se respira, mas o que mais amo ainda, é recordar a minha infância aqui vivida, e só por isso esta será sempre a ditosa terra minha amada.




 


Um dia parti, sem saber quando voltava, ou se voltava mesmo, pela graça de Deus voltei e voltarei enquanto o Criador o entenda, e com Ele fiz um pacto, de um dia voltar para não mais partir!




 


 




 


Manuel Joaquim F. Barros

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