quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

S. Cristóvão

 



 



 



 



 



 


 


Lugar: Ruivães


Freguesia: Ruivães


Concelho: Vieira do Minho


Código Administrativo: 031114


Latitude:41.40.40


Longitude: 1.05.30


Altitude: 650 metros


 


 


Acesso: O acesso ao local faz-se a pé, com dificuldade pelo antigo caminho carreteiro lajeado, hoje desactivado, que conduzia da aldeia de Ruivães a S. Cristovam, ou mais facilmente, mas também a pé, pelo caminho vicinal que sai da estrada nacional EN.103 ao kilómetro 89, para Sudeste. Atingindo-se a vacaria, deve seguir-se junto à levada de água até cruzar o antigo caminho de Ruivães.


 


Descrição Física: O sítio arqueológico corresponde a um pequeno alvéolo que, virado a poente, é limitado a NE pelo outeiro de S. Cristovam e a SO pela colina designada Outeiro do Curral. Zona de meia vertente, muito recortada e bem drenada, conhece uma ocupação do solo diferenciada. A parte agricultada, a de maior extensão, é dominada por parcelas armadas em socalcos, onde se conservam espessos solos antrópicos; a maior parte das leiras estão abandonadas, apresentando uma cobertura vegetal rasteira, com predominância de giestas e tojos. A zona de monte apresenta uma cobertura vegetal dominada por matos e arbustos rasteiros (tojo, giestas, fetos e herbáceas). O substrato rochoso, granítico, é recoberto por um solo pouco espesso, que frequentemente deixa a descoberto a arena de alteração (saibro) ou as massas rochosas que afloram em caos de blocos. Dispersos pelo terreno abundam pequenos blocos graníticos afeiçoados.


 


Descrição Arqueológica: Dispersos pela plataforma superior e vertente NE do Outeiro do Curral, que se estende armada em socalcos pelo alvéolo em direcção à elevação de S. Cristovam, encontram-se abundantes fragmentos de cerâmica de construção tipo imbrex e tegulae, bem como grandes quantidades de blocos graníticos afeiçoados, de tamanho médio, reaproveitados nos muros de divisão das parcelas. No solo das diferentes plataformas identificam-se alguns alinhamentos incipientes de pedras, reveladores da existência de estruturas enterradas, e recolhem-se fragmentos de cerâmica doméstica (p.ex. de dolium). Na banda Norte do alvéolo, ao meio da coroa do outeiro de S. Cristovam, conservam-se vestígios de 4 sepulturas escavadas na rocha granítica - duas completas, de forma antropomórfica bem desenhada e duas incompletas, de que restam o topo das cabeceiras. Destinadas a enterrar adultos, têm os pés orientados para nascente e a cabeça para poente. Nos terrenos contíguos ao afloramento rochoso onde foram escavadas as sepulturas observam-se inúmeros alinhamentos de paredes arruinadas, desenhando edificações de planta rectangular e quadrada. A edificação que ostenta paredes mais espessas que as restantes é considerada pela população local como ruína de uma antiga igreja. Nas proximidades, abandonada contra um muro de divisão de propriedade, encontra-se a taça fragmentada de uma provável pia baptismal. Por aqui passa o caminho lajeado que ainda há poucos anos ligava o lugar a Ruivães, para Sudoeste e a Botica, para Este.


 


Interpretação: Com base na ergologia dos materiais, interpretamos o primeiro conjunto de vestígios como ruínas de um povoado ocupado em época romana. Dominando a encosta que faz a passagem do vale do rio Cávado ao vale do rio Rabagão, o povoado de S. Cristovam revela uma estratégia de implantação claramente relacionada com a passagem da via romana XVII, que ligava Bracara Augusta a Aquae Flaviae. Pode até admitir-se, tendo presente o achado dos miliários da Portela de Rebordelos (ou Rebordendo) e de Botica, que o seu traçado servia directamente o povoado de S. Cristovam. Considerando o contexto arqueológico próximo, em que se destacam os povoados fortificados de Outeiro do Vale, Ruivães e de Linharelhos, Salto, pode considerar-se que o povoado romano de S. Cristovam seria um importante vicus, podendo inclusivamente colocar-se a hipótese de corresponder à mansio Salacia, uma das três que serviam a via XVII entre Braga e Chaves. O segundo grupo de vestígios interpretam-se como ruínas de um povoado medieval, o qual julgamos corresponder à sede de S. Martinho de Vilar de Vacas, freguesia referenciada nas Inquirições de 1258 e da qual terá evoluído a actual aldeia de S. Martinho de Ruivães. Da aldeia medieval de S. Martinho de Vilar de Vacas pode dizer-se que era sede de um território bastante povoado - no século XIII incluía as aldeias da actual freguesia de Campos, factor que terá contribuído para que mais tarde, já como Ruivães, tenha atingido o estatuto de concelho.


 


Cronologia: Pela tipologia dos materiais e pelo contexto histórico-arqueológico, o sítio de S. Cristovam terá conhecido uma ocupação que se terá prolongado, não necessariamente de modo contínuo, dos primeiros séculos da nossa era até ao fim da Idade Média.


 


Bibliografia: ALARCÃO, Jorge de (1982) - Roman Portugal, II, (Gazetteer/Inventário), (Fasc. 1), Warminster.


           (INQ.1258), Portugaliae Monumenta Historica. Inquisitiones, I, Academia das Ciências, Lisboa, 1888, pp.1510-1511.


           PEIXOTO, Rocha (1967) - Sepulturas abertas em rocha, Obras, I, Câmara Municipal de Póvoa de Varzim, Póvoa de Varzim, pp.370


           VIEIRA, J.C. Alves (1925) - Vieira do Minho. Notícia Historica e Descriptiva, União Gráfica, Vieira do Minho, pp.342


 


Observações: As coordenadas reportam-se a um ponto central da estação arqueológica. O sítio designado por povoados romano e medieval de S. Cristovam é, pelas características fisiográficas de implantação e pelos contextos histórico-arqueológicos que associa, um local de grande interesse científico e inegável valor histórico e cultural, sendo o seu estudo fundamental para a compreensão das modalidades e hierarquização dos povoamentos romano e medieval da região do alto Cávado. Pelas razões acima aduzidas, e porque conserva um enquadramento paisagístico sem grandes perturbações, a Câmara Municipal de Vieira do Minho propôs que o local designado por povoados romano e medieval de S. Cristovam fosse classificado como Imóvel de Interesse Público (ou Sítio de Valor Regional). O local é conhecido da bibliografia arqueológica que, contudo, apenas refere a existência de duas sepulturas escavadas na rocha e restos associáveis a um antigo templo. Nenhum autor faz referência aos vestígios associáveis a uma ocupação romana do local.


 


 


Fonte: Sítios e Achados Arqueológicos da vertente Alta da Serra da Cabreira.


 

2 comentários:

Ruivanense Adoptivo disse...

Estamos perante fotografias de uma impressionante beleza e de um incalculável valor histórico.
A descrição do local é muito precisa e está elaborada com a maior eloquência

paulo miranda disse...

a indicação do "caminho vicinal que sai da estrada nacional EN.103 ao kilómetro 89" pode estar errada, uma vez que há dois ou três anos renumeraram a estrada nacional.