quinta-feira, 27 de novembro de 2014
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
Memórias Paroquiais de 1758: perguntas
Interrogatório
ou inquérito a que os párocos responderam:
"1.
Em que província fica, que bispado, comarca, termo e freguesia
pertence?
2.
Se é d'el-rei, ou de donatário, e quem o é ao presente?
3.
Quantos vizinhos tem e o número das pessoas?
4.
Se está situada em campina, vale, ou monte, e que povoações se
descobrem dela, e quanto dista?
5.
Se tem termo seu, que lugares ou aldeias compreende, como se chamam,
e quantos vizinhos tem?
6.
Se a paróquia está fora do lugar, ou dentro dele, e quantos
lugares, ou aldeias tem a freguesia, todos pelos seus nomes?
7.
Qual é o orago, quantos altares tem, e de que santos, quantas naves
tem; se tem irmandades, quantas, e de que santos?
8.
Se o Pároco é cura, vigário, ou reitor, ou prior, ou abade, e de
que apresentação é, e que renda tem?
9.
Se tem beneficiados, quantos, e que renda tem, e quem os apresenta?
10.
Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas, e quem são os
seus padroeiros?
11.
Se tem hospital, quem o administra, e que renda tem?
12.
Se tem casa de Misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda
tem; e o que houver notável em qualquer destas cousas?
13.
Se tem ermidas, e de que santos, e se estão dentro, ou fora do
lugar, e a quem pertencem?
14.
Se acode a eles romagem, sempre, ou em alguns dias do ano, e quais
são estes?
15.
Quais são os frutos da terra que os moradores recolhem em maior
abundância?
16.
Se tem juiz ordinário, etc., câmara, ou se está sujeita ao governo
das justiças de outra terra, e qual é esta?
17.
Se é couto, cabeça de concelho, honra, ou beetria?
18.
Se há memória de que florescessem, ou dela saíssem, alguns homens
insignes por virtudes, letras, ou armas?
19.
Se tem feira, e em que dias, e quantos dura, se é franca ou cativa?
20.
Se tem correio, e em que dias da semana chega e parte; e, se o não
tem, de que correio se serve, e quanto dista a terra onde ele chega?
21.
Quanto dista da cidade capital do bispado, e quanto de Lisboa,
capital do reino? Se tem algum privilégio, antiguidades, ou outras
cousas dignas de memória?
22.
Se há na terra, ou perto dela alguma fonte, ou lagoa célebre, e se
as suas águas tem alguma especial qualidade?
23.
Se for porto de mar, descreva-se o sítio que tem por arte ou por
natureza, as embarcações que o frequentam e que pode admitir?
24.
Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seus muros; se for
praça de armas, descreva-se a sua fortificação.
25.
Se há nela, ou no seu distrito algum castelo, ou torre antiga, e em
que estado se acha ao presente?
26.
Se padeceu alguma ruína no terramoto de 1755, e em quê, e se está
reparado?
27.
E tudo o mais que houver digno de memória, de que não faça menção
o presente interrogatório?
Na
segunda parte pretende-se saber o seguinte sobre a serra:
1.
Como se chama?
2.
Quantas léguas tem de comprimento, e quantas de largura; onde
principia, e onde acaba?
3.
Os nome dos principais braços dela?
4.
Que rios nascem dentro do seu sítio, e algumas propriedade mais
notáveis delse; as partes para onde correm, e onde fenecem?
5.
Que vilas e lugares estão assim na serra, como ao longo dela?
6.
Se há no seu distrito algumas fontes de propriedades raras?
7.
Se há na serra minas de metais, ou canteiras de pedra, ou de outros
materiais de estimação?
8.
De que plantas, ou ervas medicinais é a serra povoada, e se se
cultiva em algumas partes, e de que géneros de frutos é mais
abundante?
9.
Se há na serra alguns mosteiros, igrejas de romagem, ou imagens
milagrosas?
10.
A qualidade do seu temperamento?
11.
Se há nela criações de gados, ou de outros animais, ou caça?
12.
Se tem alguma lagoa, ou fojos notáveis?
13.
E tudo o mais que houver digno de memória?
E
sobre os rios que passarem na terra, procura-se saber:
1.
Como se chama, assim o rio, como o sítio onde nasce?
2.
Se nasce logo caudaloso, e se corre todo o ano?
3.
Que outros rios entram nele, e em que sítio?
4.
Se é navegável, e de que embarcações é capaz?
5.
Se é de curso arrebatado, ou quieto, em toda a sua distância, ou em
alguma parte dela?
6.
Se corre de norte a sul, se de sul a norte, se de poente a nascente,
se de nascente a poente?
7.
Se cria peixes, e de que espécie são os que traz em maior
abundância?
8.
Se há nele pescarias, e em que tempo do ano?
9.
Se as pescarias são livres, ou de algum senhor particular, em todo o
rio, ou em alguma parte dele?
10.
Se se cultivam as suas margens, e se tem muito arvoredo de fruto ou
silvestre?
11.
Se tem alguma virtude particular as suas águas?
12.
Se conserva sempre o mesmo nome, ou o começa a ter diferente em
algumas partes, e como se chamam estas, ou se há memória de que em
outro tempo tivesse outro nome?
13.
Se morre no mar, ou em outro rio, e como se chama este, e o sítio em
que entra nele?
14.
Se tem alguma cachoeira, represa, levada, ou açudes que lhe
embaracem o ser navegável?
15.
Se tem pontes de cantaria, ou de pau, quantas e em que sítio?
16.
Se tem moinho, lagares de azeite, pisões, noras ou outro algum
engenho?
17.
Se tem algum tempo, ou no presente, se tirou ouro das suas areias?
18.
Se os povos usam livremente das suas águas para a cultura dos
campos, ou com alguma pensão?
19.
Quantas léguas tem o rio, e as povoações por onde passa, desde o
seu nascimento até onde acaba?
20.
E qualquer outra cousa notável que não vá neste interrogatório."
Retirado daqui: http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=4242887
terça-feira, 25 de novembro de 2014
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
domingo, 23 de novembro de 2014
sábado, 22 de novembro de 2014
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
«A divisão das águas»
A utilização das águas
serranas para a irrigação dos campos e o fornecimento energético
nas azenhas desempenhou sempre um papel relevante na montanha
minhota. A cada comunidade pertenciam uma ou várias bacias de
recepção de ribeiras, que sustentavam um sistema comunitário de
rega, em pleno funcionamento durante o Verão. As águas das ribeiras
e numerosas fontes da serra eram divididas pelos vizinhos, conforme a
área de cultivo possuída por cada proprietário ou unidade de
exploração.
Este
sistema vigorava na Serra da Cabreira e ainda se mantém na maior
parte das freguesias serranas. Mas é sobretudo na freguesia de
Ruivães que a divisão das águas entre comunidades levantava
mais problemas, já que os baldios são repartidos entre várias
aldeias, situadas a altitudes diferentes.
Pode
observar-se nas figuras 31A e 31B que os campos cultivados em
Ruivães-Quintã, Vale e Botica, têm uma posição desfavorável
para usufruição das águas dos seus montes. A área baldia de
Ruivães, localizada a Noroeste do actual perímetro florestal até à
Serradela, possui apenas pequenas ribeiras com caudal insuficiente
para a irrigação estival. As águas eram também captadas na parte
oriental da freguesia, onde, no início do século XIX, havia uma
levada. Mas esta levada foi contestada por Campos, porque as águas
que a alimentavam vinham das ribeiras do seu logradouro. Durante o
reinado de D. Maria II, foi resolvida a questão das águas em
tribunal, e Ruivães passou a comemorar o acontecimento por uma festa
anual. Apesar de não ser muito remota, a comemoração mostra a
importância do sistema da divisão das águas. A tradição oral que
se segue foi-nos contada por vários inquiridos, mas não foi
possível averiguar com mais pormenores a data exacta dos
acontecimentos.
Os
lugares de Linharelhos e Lamalonga da freguesia de Campos
revindicaram para o seu próprio uso as águas dos regos que eram
captadas para a levada de Ruivães. Logo se repara nas figuras 31
que, para Ruivães, esta revindicação ameaçava a rega dos seus
campos. Além do mais, os vizinhos não tinham o direito de utilizar
as águas dos afluentes mais importantes da margem esquerda do Rio da
Lage, pertencentes a Espindo e Zebral. No tempo de D. Maria II, as
contendas entre vizinhos de Ruivães e de Campos foram para tribunal,
que deliberou a favor dos primeiros. A tradição diz que os povos de
Ruivães traziam sempre uma imagem de S. Bartolomeu escondida num
cesto, quando assistiam às sessões judiciárias. Logo a seguir ao
processo, o santo tornou-se padroeiro da levada, por Ruivães e os
outros lugares continuarem a gozar das águas da parte oriental da
serra.
A
Comissão da levada do Poço Longo - ou Comissão de S. Bartolomeu
-promove ainda todos os anos uma festa no dia 24 de Agosto, em que se
comemora este santo, "com sermão e missa cantada". Também
neste dia é "leiloada" a água, no intuito de se
arranjarem fundos para a conservação da levada. Outra função
essencial da Comissão consiste em marcar o "Dia do Pardinho",
durante o qual os compartes, "de sachola e de farnel", vão
até ao Rebolar e à Senhora dos Aflitos, situados na bacia de
recepção da Ribeira de Lamas que, a latitude da Chã de Coelhos,
passa a ser o Rio da Lage. Todos os regos são então canalizados
para a levada, já que estas águas lhes pertencem por ordem do
tribunal.
A
fixação deste dia não é rígida, mas depende das condições
climáticas do fim da Primavera. O costume diz que as águas são de
Ruivães, da S. João (24 de Junho) a S. Miguel (29 de Setembro). Nos
finais deste mês, as primeiras chuvas, aumentando o débito das
águas, destroem todas as canalizações artificiais feita no "Dia
do Pardinho", retomando as águas o seu curso natural e
voltando a serem utilizadas por Campos. Contudo, se o Verão estiver
muito seco, Campos e Ruivães encontram sempre medidas de
conciliação, tal como aconteceu em 1985 em que, depois de Agosto,
as águas foram para os lameiros de Lamalonga (Campos)
NICOLE DEVY-VARETA
A
FLORESTA NO ESPAÇO E NO TEMPO EM PORTUGAL: A
arborização da Serra da Cabreira (1919-1975)
Dissertação
de Doutoramento em Geografia Humana apresentada à Faculdade de
Letras da Universidade do Porto
PORTO
1993
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