sábado, 19 de junho de 2021

RUIVÃES E CAMPOS: Das relíquias verdes à “ponte do Diabo”

 



Retirado do jornal Correio do Minho de 18 de Junho de 2021.


Ruivães e Campos. Cenários idílicos, marcadamente verdes e com toques arquitectónicos incomuns. Os prados virados a sul, o Carvalhal de Esporão, os fornos comunitários, as cascatas e as famosas pontes. A de Rês e a de Misarela. Esta última envolta de espiritualidade e há quem diga que foi o diabo a edificá-la.

Em tempos antigos diz-se que um criminoso em fuga ao chegar à margem do rio Rabagão, desesperado, invocou a ajuda do diabo para passar para a outra margem. Como contrapartida ofereceu a sua alma. O marrafico fez aparecer uma ponte, ordenou ao criminoso para a atravessar sem olhar para trás. Assim fez e chegado à outra margem a ponte desapareceu. Quando a morte lhe bateu à porta, o diabo foi buscá-la. Arrependido pediu a ajuda a um padre. Este preocupado perante a dificuldade, ergue as mãos e pede ajuda divina. “Por Deus das águas puras do Rabagão ou pelo diabo das pedras negras, apareça aqui uma ponte de pedra”. O humilde padre fez o sinal da cruz, ouviu os rugidos de Lucifer e gritou?“arrebenta tu diabo”. Agradeceu o milagre e então a ponte de Misarela ficou envolta em magia.
Há ainda outra crença com a ponte e as mulheres no processo de gravidez. Em suma, são várias as histórias em torno desta ponte de Ruivães, mas para além disso ficou ligada a um marco importante. Em Maio de 1809 foi palco de um combate sangrento entre o exército de Napoleão e as tropas luso-britânicas aquando da segunda invasão francesa.

“Chorai meninas de França,
Chorai por vossos maridos,
Na ponte de Misarela
eram mais os mortos que vivos”
Cancioneiro popular

Ruivães tem ainda a famosa a Ponte de Rês ou Velha, que integrava o traçado da antiga via que ligava Braga a Chaves. Nesta freguesia encontra-se também a cascata do Caldeirão, situada à entrada da aldeia de Zebral, em plena Serra da Cabreira.
Já em Campos o verde é a tónica principal. Este primitivo povoado é classificado como ‘Aldeia de Portugal’. Junto a um antigo moinho, a praia fluvial é uma bela presa de água, no meio da natureza, alimentada pelo rio Lage. Plena de autenticidade.


Imperdíveis são os fornos comunitários, situados nas aldeias de Campos e da Lamalonga. Os fornos do povo, verdadeiros testemunhos de um passado comunitário. Serviam também para refúgio dos viajantes e até dos pobres pedintes.
A partir de Campos pode ser concretizada uma caminhada com cerca de 14 quilómetros e à espera do visitante está uma paleta de cores, fartos lameiros e a vasta fauna da Cabreira.
O?carvalhal do Esporão é uma verdadeira relíquia verde. Aqui fica um parque de merendas, constituindo um espaço de lazer fantástico.

A​ ​sede da junta de freguesia está “aberta todos os dias”. Talvez seja esse um dos principais segredos de Ruivães e Campos, na sua forma de estar, num sentido de missão, de partilha e trabalho em rede. “Aqui os habitantes da freguesia têm ao seu dispor apoio permanente para a resolução dos mais diversos problemas”, começou por referir o autarca Manuel Pereira, acrescentando que a ligação entre associações e instituições “é um dos pontos que tem permitido a concretização de diferentes projectos” para esta União de Freguesias. “Naturalmente que, em meios mais pequenos, esses são factores-chave para o sucesso das comunidades”, destaca ainda o autarca.
“Em Ruivães está instalada a secção dos Bombeiros Voluntários, por exemplo. Deste logo são a representação da missão mais nobre na humidade, que é o voluntariado. Associado a esse facto há os riscos inerentes do que representa ser bombeiro. Há um carinho enorme da população para com a corporação e, da nossa parte, enquanto equipa da junta de freguesia, temos procurado imprimir o máximo empenho, através da disponibilização de ver- bas e apoios, para a manutenção de um serviço de vital importância para a zona norte do concelho de Vieira do Minho, salienta Manuel Pereira, autarca da União de Freguesias de Ruivães e Campos. “O seu contributo é essencial para o bem-estar da população”, considera ainda.

Traçando um balanço muito positivo dos últimos anos, destaca a concretização de “obras essenciais para as duas freguesias”. “Desde logo a abertura, alargamento e melhoramento de várias vias de comunicação, que aproximaram mais as comunidades e ampliaram a segurança e qualidade de vida desta união”, ressalva Manuel Pereira.
Talvez seja até histórico esse sentido de missão.? Recordem-se os dois fornos comunitários que ainda hoje são usados pela população para cozer o pão ou para demonstração junto de escolas para perpetuar a história e essa forma de estar.

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