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sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

terça-feira, 5 de julho de 2022

sábado, 19 de junho de 2021

RUIVÃES E CAMPOS: Das relíquias verdes à “ponte do Diabo”

 



Retirado do jornal Correio do Minho de 18 de Junho de 2021.


Ruivães e Campos. Cenários idílicos, marcadamente verdes e com toques arquitectónicos incomuns. Os prados virados a sul, o Carvalhal de Esporão, os fornos comunitários, as cascatas e as famosas pontes. A de Rês e a de Misarela. Esta última envolta de espiritualidade e há quem diga que foi o diabo a edificá-la.

Em tempos antigos diz-se que um criminoso em fuga ao chegar à margem do rio Rabagão, desesperado, invocou a ajuda do diabo para passar para a outra margem. Como contrapartida ofereceu a sua alma. O marrafico fez aparecer uma ponte, ordenou ao criminoso para a atravessar sem olhar para trás. Assim fez e chegado à outra margem a ponte desapareceu. Quando a morte lhe bateu à porta, o diabo foi buscá-la. Arrependido pediu a ajuda a um padre. Este preocupado perante a dificuldade, ergue as mãos e pede ajuda divina. “Por Deus das águas puras do Rabagão ou pelo diabo das pedras negras, apareça aqui uma ponte de pedra”. O humilde padre fez o sinal da cruz, ouviu os rugidos de Lucifer e gritou?“arrebenta tu diabo”. Agradeceu o milagre e então a ponte de Misarela ficou envolta em magia.
Há ainda outra crença com a ponte e as mulheres no processo de gravidez. Em suma, são várias as histórias em torno desta ponte de Ruivães, mas para além disso ficou ligada a um marco importante. Em Maio de 1809 foi palco de um combate sangrento entre o exército de Napoleão e as tropas luso-britânicas aquando da segunda invasão francesa.

“Chorai meninas de França,
Chorai por vossos maridos,
Na ponte de Misarela
eram mais os mortos que vivos”
Cancioneiro popular

Ruivães tem ainda a famosa a Ponte de Rês ou Velha, que integrava o traçado da antiga via que ligava Braga a Chaves. Nesta freguesia encontra-se também a cascata do Caldeirão, situada à entrada da aldeia de Zebral, em plena Serra da Cabreira.
Já em Campos o verde é a tónica principal. Este primitivo povoado é classificado como ‘Aldeia de Portugal’. Junto a um antigo moinho, a praia fluvial é uma bela presa de água, no meio da natureza, alimentada pelo rio Lage. Plena de autenticidade.


Imperdíveis são os fornos comunitários, situados nas aldeias de Campos e da Lamalonga. Os fornos do povo, verdadeiros testemunhos de um passado comunitário. Serviam também para refúgio dos viajantes e até dos pobres pedintes.
A partir de Campos pode ser concretizada uma caminhada com cerca de 14 quilómetros e à espera do visitante está uma paleta de cores, fartos lameiros e a vasta fauna da Cabreira.
O?carvalhal do Esporão é uma verdadeira relíquia verde. Aqui fica um parque de merendas, constituindo um espaço de lazer fantástico.

A​ ​sede da junta de freguesia está “aberta todos os dias”. Talvez seja esse um dos principais segredos de Ruivães e Campos, na sua forma de estar, num sentido de missão, de partilha e trabalho em rede. “Aqui os habitantes da freguesia têm ao seu dispor apoio permanente para a resolução dos mais diversos problemas”, começou por referir o autarca Manuel Pereira, acrescentando que a ligação entre associações e instituições “é um dos pontos que tem permitido a concretização de diferentes projectos” para esta União de Freguesias. “Naturalmente que, em meios mais pequenos, esses são factores-chave para o sucesso das comunidades”, destaca ainda o autarca.
“Em Ruivães está instalada a secção dos Bombeiros Voluntários, por exemplo. Deste logo são a representação da missão mais nobre na humidade, que é o voluntariado. Associado a esse facto há os riscos inerentes do que representa ser bombeiro. Há um carinho enorme da população para com a corporação e, da nossa parte, enquanto equipa da junta de freguesia, temos procurado imprimir o máximo empenho, através da disponibilização de ver- bas e apoios, para a manutenção de um serviço de vital importância para a zona norte do concelho de Vieira do Minho, salienta Manuel Pereira, autarca da União de Freguesias de Ruivães e Campos. “O seu contributo é essencial para o bem-estar da população”, considera ainda.

Traçando um balanço muito positivo dos últimos anos, destaca a concretização de “obras essenciais para as duas freguesias”. “Desde logo a abertura, alargamento e melhoramento de várias vias de comunicação, que aproximaram mais as comunidades e ampliaram a segurança e qualidade de vida desta união”, ressalva Manuel Pereira.
Talvez seja até histórico esse sentido de missão.? Recordem-se os dois fornos comunitários que ainda hoje são usados pela população para cozer o pão ou para demonstração junto de escolas para perpetuar a história e essa forma de estar.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Ruivães na imprensa bracarense




Recortes dos jornais diários da cidade de Braga, "Diário do Minho" e "Correio do Minho", sobre a iminente classificação da Ponte Velha e da Via Romana como conjunto de interesse público, já aqui referenciada.

sexta-feira, 12 de julho de 2019

quarta-feira, 1 de maio de 2019

«Os sucessos de Ruivães»


(carregar na imagem para maior visualização)




«Os sucessos de Ruivães - Depois de concluída a patriótica Expedição de Ruivães, perto de quatro centas armas ficarão abandonadas, as quaes o povo de Ruivães recolheu, e d’ellas fez uma especie de arsenal para o que désse e viesse. Ha dias que a Authoridade Administrativa soube disso, e mandou um official de justiça com a escolta apoderar-se das ditas armas. Mal o povo soube disso, pegou nellas, armou-se e combateu a escolta, a quem desarmou, ferindo dous soldados levemente, e gravemente o official de justiça : a expedição retirou, levando as suas armas, que lhe forão entregues sem pede neiras. Estes dias marchou nova expedição de Chaves, Infanteria, Cavallaria, e o Juiz de Direito, segundo uma carta que vimos: veremos o resultado; de Ruivães a Galliza não é longe. Não culparemos o Governo por estes, e outros factos, muito mais que está em agonias de morte : segundo a opinião do José Alexandre de Campos, e Companhia : comtudo os nossos leitores farão o juízo que quizerem, lamentando, como nós, as circunstancias, que proclamão o direito de reacção, que parece ser hoje a moda mais em moda.»

segunda-feira, 29 de abril de 2019

«Protocolo garante posto de socorro em Ruivães»





«Os Bombeiros de Vieira do Minho e a Câmara de Vieira do Minho assinaram hoje um protocolo de colaboração, incluindo a Junta da União de Freguesias de Ruivães e Campos, os Conselhos Diretivos de Baldios de Espindo e Zebral, tendo em vista o funcionamento do Posto Avançado de Socorro de Ruivães.
«O entendimento entre estas quatro entidades vai permitir que aquele posto esteja disponível para prestar socorro e auxílio à população da Zona Norte do concelho de Vieira do Minho todos os dias da semana entre as 08h00 e as 24h00», disse fonte da Câmara.
Para o funcionamento deste Posto Avançado de Socorro será disponibilizado o montante anual de 30 mil euros.»

quarta-feira, 10 de abril de 2019

«PELOURINHOS»





Estes monumentos, alguns os quaes se encontram, infelizmente, damnificados, constituem, como sensatamente nos diz o primoroso escriptor e archeologo Silva Leal, n’um interessante e valiosíssimo trabalho, referente aos pelourinhos, valiosos elementos para o estudo da architectura no nosso paíz e n’elles acham.se representados os diversos estylos introduzidos em Portugal desde o seculo XIV.
Não é nosso intuito descrever n’um modesto e despretensioso artigo as suas historias, e simplesmente chamamos para elles a atenção dos indivíduos menos versados em tão importante assumpto.
Assim, pois, é ainda do trabalho do snr. Silva Leal que vamos extractar os períodos seguintes:
«A palavra pelourinho», designando um instrumento de justiça, é um signal de jurisdicção dos tempos antigos; creio ser oriundo do latim «polesitinus».
«Em França foi designado pelo nome de «pilosi», e de lá passou certamente pata o «pilosi», «pilosinus», «pelesino» e «spilosinus», termos que se encontram empregados em vários documentos dos seculos XII e XIII.
«O pelourinho», imitação da columna de Messias, que se erguia no Forum, em Roma, e onde os escravos e delinquentes eram amarrados para sofrerem castigos publicos, passou dos romanos para os godos e d’estes para nós.
Começaram por ser primeiro da jurisdição municipal, e por isso as camaras ou municipalidades, os mandavam levantar em frente, quasi sempre, dos paços do senado.
Também houve pelourinhos de jurisdição privativa dos senhores feudais, dos bispos e das communidades monasticas, etc.
O direito de construir pelourinhos foi concedido às camaras em fins do seculo XII.
«Como instituição municipal se desenvolveram estendendo-se a todo o reino, passando algum tempo depois a servir para a execução de sentenças dos tribunaes de justiça.»
Estes períodos esclarecem bem o assumpto.
Em Portugal o seu primitivo nome foi «picota» e «picotar» era o termo que designava o acto de expôr amarrado ao pelourinho (pilastras de pedra ou columna) e, portanto à incisão publica, o que ludibriava o povo na venda de qualquer género, ou roubava por forma diferente.
O criminoso durante o tempo de castigo era obrigado a conservar ao peito o documento que explicava o motivo da condemnação.
Algumas d’estas columnas tinham ganchos de ferro onde eram penduradas as cabeças dos que pelos seus crimes sofriam a pena de morte.
Os pelourinhos, porém, não foram unicamente considerados instrumentos de tortura, serviram egualmente para comemorar as regalias concedidas ás camaras, regalias que por largo período de anos les foram conservadas e respeitadas. É, pois, grande o interesse que oferecem aos que se entregam ao estudo da arqueologia e da architectura pátria.
Muitos d’estes monumentos teem sido n’estes últimos anos restaurados. Entre outros, cumpre-nos mencionar o da antiga e histórica villa de Palmela, um dos poucos que ainda conservam ganchos de ferro.
A restauração teve logar em 1907, e para a comemorar realisaram-se n’aquella villa brilhantes e concorridíssimos festejos, para o que foi organizada por louvável iniciativa do cidadão Manuel Joaquim da Costa, uma comissão de bons e dedicados patriotas. Memoramos o facto, que bem o merece.
Os pelourinhos apresentam, como fica exposto, diferentes estylos architectonicos, sendo alguns primorosíssimos. Pena é que seja ainda elevado o numero dos que d’estes monumentos necessitam de ser restaurados.
Desleixo e indifferença que o amor pela arte e pela historia pátria não sabe desculpar.

Sebastião Joaquim Baçam


Retirado do jornal “Comercio de Vieira” nº 533 de 4 de Março de 1911.

quarta-feira, 20 de março de 2019

«RUIVÃES e o poeta Gonçalves Crespo»



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«Passando há dias, em Ruivães, a velha terra serrana do concelho de Vieira do Minho, que já teve honras de vila e até de concelho e onde, em 1837, se feriu a última batalha entre setembristas e cartistas, no termo das lutas constitucionais, lembramo-nos de que, numa das aldeias ali perto, nascera o pai do grande poeta Gonçalves Crespo, hoje quase inteiramente esquecido.
Embora visse a luz do dia no Rio de Janeiro, a verdade é que Gonçalves Crespo está preso ao distrito e até à cidade de Braga, por muitos e variados laços de sangue, de afecto e de ideologia. Tanto o avô como o pai eram descendentes de humildes famílias de lavradores do lugar de Zebral, da freguesia de Ruivães; um dos seus maiores amigos e mais directos companheiros de estudo em Coimbra e das boémias e lides literárias, ainda que um pouco mais velho do que, foi precisamente o poeta JoãoPenha, natural de Braga; colaborou nas folhas bracarenses; e aqui veio também a falecer, aí por alturas de 1870, o seu pai, de nome António José Gonçalves Crespo que, como tantos outros minhotos, havia emigrado na adolescência, primeiro para Lisboa e depois para o Brasil, em cata de fortuna.
Ñão foi decerto por mero acaso que se reuniram e articularam todas estas significativas coincidências. A alma, profundamente sensível, de Gonçalves Crespo, deve ter haurido no quadro geneológico da sua família e nas recordações e descrições que ela lhe transmitiu a seiva criadora da sua inspiração e do seu sonho de artista e de imaginativa. A mãe, uma indígena do sertão brasileiro, foi, sem dúvida, a suprema responsável pela sua ardente, tropical fantasia, pelo sopro de voluptuosidade que freme na sua obra e pelo sentido de cor naturalista das suas opulentas imagens, cinzeladas numa forma impecável, mas do pai, em cujos olhos nunca se extinguiram as lembranças dos montes, dos vales, das fragas e dos ribeiros da sua infância, à sombra dos contrafortes da Cabreira, herdou, directamente, a nostalgia, o bucolismo meditativo, a expressão idílica, a delicadeza amorosa e, afinal, o próprio culto íntimo e inalienável da poesia, que é, como definiu Antero de Quental, a «evidencia da alma».
Os seus versos dos «Miniaturas» e dos «Nocturnos», de transbordante espontaneidade, têm frescura, a elegância e a palpitação quase musical, no ritmo ondeante em que decorrem, de pequenas telas pintadas com tintas macias e fulgurantes, como nas admiráveis composições. «A venda dos bois», «Algum» e «O juramento do árabe» ou nos sonetos «Mater Dolorosa» e «Na aldeia». O seu coração desvenda-se com nitidez em cada motivo e a sua apurada sensibilidade estética vibra e denuncia-se no recorte gracioso de cada rima.
Pertencendo à galeria dos grandes poetas da segunda metade do século XIX, tão fértil em astros gloriosos, António Cândido Gonçalves Crespo, bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, deputado às legislaturas de 1879 e 1881, por um dos círculos da Índia (apesar de pouco o seduzirem as intrigas e as cizânias da política profissional, tão frequentes nesse tempo), redactor do «Diário da Câmara dos Pares», foi, antes de tudo, fundamentalmente, um poeta por vocação, por destino, sagrado no erço pelos deuses do Olimpo, como se lhe houvessem colocado uma lira de oiro entre os dedos inquietos do crioulo. Ao lado de António Feijó, Fernando Caldeira, conde de Monsaraz, Guilherme de Azevedo, Cesário Verde, Simões Dias, João de Lemos e João Penha, para só citarmos alguns que, de uma maneira ou de outra, mais se assemelham, nos temas ou nas características da métrica, pode dizer-se que encheu plenamente uma época, não obstante haver morrido, vítima de tuberculose, com menos de 40 anos de idade.
Delida pelo perpassar impiedoso do tempo, a sua memória, assinalada no cunhal de uma rua de Lisboa., em tributo de justiça póstuma, parece já nada representar para a história literária do nosso país e apostaríamos dobrado contra singelo que pouca gente saberá, não diremos no concelho de Vieira do Minho, mas até em Ruivães, que dali partiu, daquele obscuro alto de Zebral, o grande tronco paterno de onde emergiu uma das mais notáveis vergônteas da literatura nacional.
Nele havia um misto de subtis personalidades: o contemplativo de arroubos quase místicos, o parnasiano fascinado pelas coisas soberbas e decorativas da existência, o intuicionista que sabia dar ao poema uma fluência maviosa e uma plasticidade estrófica – e ainda o enternecido amigo e paladino das crianças, como o comprova esse encantador livro de contos que, em 1882, um ano antes de sucumbir, deu a lume, escrito de colaboração com sua mulher, a excelsa educadora Maria Amália Vaz de Carvalho, e destinado às escolas primárias.
O seu casamento – comunhão de dois espíritos superiores – trouxe-lhe a paz interior, o impulso construtivo das aves que começam a formar inebriadamente o ninho tépido do seu amor e essa ventura tranquila, diríamos casta, de dois temperamentos capazes de se entenderem e completarem no essencial, mas a morte, sempre escarninha para os poetas, não permitiu que a sua felicidade durasse muito: cortou-a cerce, brutalmente, como se a invejasse, transformando depressa a risonha claridade matinal na sombra caliginosa da noite, isto é: antes de terminar o ciclo natural do dia.
Enquanto o carro lestamente rolava pela estrada, agora atapetada pelas folhas caducas do Outono, que se desprendiam dos castanheiros e dos carvalhos como as quimeras da mocidade, um instante apenas verdejantes, tombam céleres nos nossos corações, íamos evocando mentalmente o obra, não muito extensa, mas bem representativa e flamejante, desse hierático cantor da mulher, da paisagem, do sol, dos aromas e de todas as emoções que o desdobrar da vida proporciona aos impressionistas do seu quilate.
No cenário agreste e luxuriante da imponente zona de Ruivães, com os seus maravilhosos contrastes entre os abismo, a floresta, os vales, a serenidade do céu, as cachoeiras, as penedias e os alcantis, a figura de Gonçalves Crespo avultou no nosso espírito com a força poderosa de uma ressurreição que se esboçasse na distância …
Posto que ali não nascesse, sorvera, através da hereditariedade familiar, tão longínqua, toda a beleza e todo o húmus daquele severo e colorido recanto do Minho, já na sua transição para Trás-os-Montes.
A sua musa, cálida e requintada, soubera interpretar, em filigranas primorosas, instintivamente, o próprio lirismo que a alma do pai, tão portuguesa, um dia levara para o Brasil, na aventura saudosa do emigrante minhoto. – A.M.»

Artigo publicado na «Crónica de Braga» do jornal «O Primeiro de Janeiro» de 5 de Novembro de 1964 e “transcrito, com a devida vénia” no jornal «Comércio de Vieira» nºs 1232 e 1233 de 25 de Novembro e 15 de Dezembro de 1964, respectivamente.