terça-feira, 1 de agosto de 2006

Reflexões Ruivanenses

Um destes dias escrevi um pequeno texto  sobre a obra “O Mutilado de Ruivães”, e rematei tal texto em jeito de agradecimento para com os respectivos autores, que não conheci, por me terem transmitido, através da mesma obra, um sentimento de orgulho em ser Ruivanense.

O orgulho, sendo um sentimento de auto-estima, não se pode limitar aos feitos dos nossos antepassados. É necessário que os recordemos por aquilo que foram, pelo que fizeram e pelo que nos legaram, mas não se pode viver eternamente à sombra da sua imagem, na eterna esperança de que o orgulho nos encha os estômagos e a importância nos seja reconhecida por aqueles que se sentam, à custa dos nossos impostos, nos cadeirões de S.Bento.

Ruivães já viveu demasiados anos “na esperança”. E se continuarmos impávidos e serenos à espera que o poder central procure no mapa a sua localização para revitalizar a sua importância histórica e administrativa, corremos sérios riscos de um dia nem se justificarem as placas indicadoras de localidade. É necessário arregaçar as mangas, olhar em frente e apostar!...

Vem esta introdução com um propósito muito sério e responsável. Não se trata de qualquer crítica, mas apenas e só de alertas, com o modesto objectivo de colaborar.

Cito apenas um pequeno episódio que, decerto não terá qualquer importância para muitas pessoas, mas que para mim, enquanto elemento socialmente activo e participativo tem.

No dia 9 de Julho de 2006, Domingo, quando efectuava um pequeno passeio pelos caminhos do lugar de Vale, onde me desloco com relativa frequência, cruzei-me com um grupo de três jovens, todos eles equipados com material para a prática de montanhismo. Um deles, com um mapa nas mãos deslocou-se na minha direcção e perguntou qual o caminho que deveriam tomar para a “Ponte Velha”. Ali lhe expliquei o itinerário que deveriam seguir, perguntando-lhe se pretendiam ali praticar alguma escalada. De forma muito simpática, aquele grupo logo me deu a saber que se preparavam para descer o leito do rio até à barragem de Salamonde e que tal percurso já faz parte da aventura de outras pessoas, amigas daqueles jovens.

 Fiquei feliz em saber que alguém, não natural dali, já havia descoberto uma das maravilhas da minha terra, o rio, e fiquei tão feliz que até desafiei aquele grupo a efectuar o percurso no sentido contrário (de juzante para montante), tal como eu já o havia feito.

 Prosseguiu a curta conversa  com uma pergunta de um jovem sobre itinerários, a partir da barragem,  para regresso à viatura que haviam deixado na estrada, próximo  do acesso à capela da Srª. da Saúde, mas sem aventura.

Nessa altura fiquei pensativo e lembrei-me dos trilhos que outrora havia pelo monte, uns criados pelos animais que por ali apascentavam, outros pelos pescadores quando percorriam a encosta íngreme da margem direita do rio, pela Ameixeira, com vistas esplêndidas sobre a encosta do Castelo, as arribas naturais de uma e outra margem, com o azul da barragem como pano de fundo, a contrastar com a verdura dos montes da margem direita do Cavado. Que paisagem maravilhosa aquela!.... Nessa altura fiquei apenas com a imagem do que conheci e conheço, mas não consegui arranjar argumento para convencer o grupo a deslocar-se por aqueles para que pudessem confirmar com os seus olhos tal beleza, e a partir daí a dinamizarem.

 Dei-lhes a conhecer que outrora havia aqueles trilhos, mas que actualmente se encontram apagados pela vegetação e que a única solução que tinham era a de regressarem a corta-mato, com os riscos respectivos.

Todos os elementos agradeceram a minha prestação, e com simpatia desejaram um bom Domingo, seguindo o seu destino.

Depois de ter deixado aqueles “aventureiros”, ao que parece amantes da natureza, fui sentar-me à sombra de um cedro que há cerca de vinte anos plantei e ali tentei ler o jornal, mas em vão. Apesar do meu esforço, não consegui concentração suficiente para a minha actualização. A minha mente ficou ocupada com o pequeno episódio dos “aventureiros”.

Nessa altura fiz muitas interrogações, que aqui reproduzo e que coloco à consideração daqueles que queiram fazer algo por Ruivães e pelas suas gentes, sempre no sentido de valorizarem o legado que foi deixado pelos antepassados e manter viva a chama que acalenta o orgulho Ruivanense, pelo menos o meu:

-         Porque não vender o que temos de melhor, como as serras, os montes, os vales, o rio, a barragem, as paisagens, os monumentos, a história, os usos e os costumes, etc?...

-         Porque não promover a classificação como monumentos nacionais a “Ponte Velha”, ou “Ponte de Pedra”, o caminho que a serve, o Pelourinho ou Forca de Ruivães, algumas casas com simbolismo histórico e arquitectónico de toda a freguesia, a Ponte do Saltadouro, alguns moinhos já em ruínas ao longo da margem do rio e de todo o conjunto dos mesmos ainda existentes ao longo da levada na Botica, e outros lugares de relevo de toda a freguesia?

-         Porque não a construção de uma réplica, em miniatura, da agora submersa Ponte do Saltadouro, para exposição em local de destaque na freguesia, em memória dos feitos heróicos dos Ruivanenses que combateram os Franceses?

-         Porque não a colocação de sinais indicadores (placas) de pontos de destaque, em locais estratégicos da freguesia, para auxílio e orientação dos visitantes?

-         Porque não a criação e manutenção de trilhos para percursos pedestres, com abrigos?

-         Porque não a promoção, como atracção turística e também cultural, dos eventos anuais do “Rego” e “Paredinho”?

-         Porque não a criação de um museu etnográfico?

-         Etc, etc, etc…

E fazer incluir Ruivães e todos os lugares que a constituem nos roteiros turísticos que, com certeza, não será difícil. E será dessa forma que a antiga e nobre Vila de Ruivães terá viabilidade como localidade de destaque no mapa de Portugal que os políticos do Poder Central desconhecem.

Claro que tudo implica gastos. Implica esforço e sacrifico. Implicará igualmente dores de cabeça e aborrecimentos, mas não tenhamos dúvidas que tudo será recompensado, quanto mais não seja como homenagem àqueles que nos deram vida, muito lutaram, sofrendo as agruras do mundo rural, hoje ao abandono.

É necessário apostar e também acreditar, sendo para tal necessário arrojo na elaboração e apresentação de projectos, que em boa verdade acredito viáveis!...

   



Braga, 14 de Julho de 2006

O autor,

(Fernando Araújo da Silva)

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