domingo, 17 de fevereiro de 2013

Combate de Ruivães




Combate de Ruivães - Em 11 de Setembro, pela uma hora da tarde, entrou no Porto o General Visconde das Antas com uma brigada composta de batalhão de Caçadores nº4, Infantaria nº 3, 6 e 10, uma bataria de Artilharia calibre 3, um esquadrão de lanceiros 2 e dois esquadrões de Cavalaria 6. Nesse mesmo dia, desembarcou, vindo do Algarve, o Batalhão de Caçadores nº 5. Em 12, organizou-se uma divisão para marchar contra o inimigo, comandada pelo Visconde das Antas, composta de uma brigada ligeira e de três brigadas de Infantaria, da forma seguinte:
Brigada Ligeira- Contingentes dos batalhões de Caçadores 3 e 28; 1ª batalhão de Caçadores nº 4 e batalhão de Caçadores nº5;
1ª brigada- Regimentos de Infantaria 3 e 10; contingentes da Guarda Municipal de Lisboa;
2ª brigada- Regimento de Infantaria nº 6; Guarda Municipal do Porto; contingentes do Regi,mento de Infantaria nº 18;
3ª brigada- Regimento de Infantaria nº 13; contingentes dos regimentos de Infantaria nº 1 e 7; contingentes dos Batalhões Provisórios de Lisboa nº 1,2 e 3.
         Um esquadrão de lanceiros e dois esquadrões do 6 de Cavalaria; uma bataria de Artilharia; um destacamento de Sapadores.
         Esta divisão se pôs em marcha do Porto no dia 16, pela estrada de Braga; nesse mesmo dia a guarda avançada teve um pequeno tiroteio com o Batalhão de Caçadores 3 dos revoltosos em Vila Nova de Famalicão, pondo-se logo o dito batalhão em retirada, perseguido por algum tempo pelo esquadrão de Lanceiros, contra o qual o inimigo fez uma descarga, matando-lhe um sargento e um soldado e fazendo-lhe alguns feridos. Nessa ocasião foi ferido o tenente de engenharia Cunha. O inimigo perdeu alguns prisioneiros. A divisão pernoitou nesta vila e no dia seguinte seguiu para Braga, onde entrou sem obstáculo algum. A divisão inimiga era comandada pelo Barão de Leiria. Compunha-se dos seguintes corpos:
         Uma bataria de Artilharia;
Um esquadrão de Cavalaria nº 3;
         Batalhão de Voluntários da Rainha;
1º Batalhão de Caçadores nº 3 e 2º de Caçadores nº4;
         1º Batalhão de Regimento de Infantaria nº 9 e parte do 2º Batalhão;
         1º Batalhão de Regimento de Infantaria nº 16;
         Regimento de Infantaria nº 17
         Regimento de Infantaria nº 18 (excepto 350 praças que andavam connosco)

Em 17 se pôs a divisão do Visconde das Antas em marcha sobre a estrada das Alturas e foi acampar nas alturas de Salamonde, posição que o inimigo ocupava mas de que se retirou durante a noite para a margem direita do rio que passa junto a Ruivães, onde se estabeleceu defendendo a ponte com a sua artilharia e barricando-a.
         Na madrugada de 18 avançou a divisão do Visconde das Antas, tomando disposições para atacar pela forma seguinte:
- a brigada ligeira foi encarregada de ir passar o rio abaixo da ponte, a fim de tornear o inimigo pela direita; a 1ª brigada tomou posição em frente da ponte; a 2ª junto a outra pequena ponte um quarto de légua acima, e a 3ª foi destinada a tornear uma em que o inimigo apoiava o seu flanco esquerdo, tendo a Cavalaria ficado junto À 2ª brigada, onde se encontrava o general.
         Logo que tudo esteve disposto e as suas brigadas que deviam flanquear em marcha, rompeu o fogo a 2ª brigada e logo a seguir a 1ª, chamando assim a atenção do inimigo para o centro. O fogo, que começou Às dez horas, durou até à uma hora da tarde, em que a brigada ligeira surgiu do flanco esquerdo do inimigo. As 1ª e 2ª brigadas passaram o dia debaixo de vivo fogo, fazendo pôr o inimigo em retirada. Quando chegou ao flanco esquerdo do inimigo, a nossa 3ª brigada, carregando, pô-lo em debandada, fazendo-lhe prisioneiro quase todo o efectivo dos regimentos 9 e 17 e para cima de um total de 400 homens de outros corpos. As bandeiras do Regimento 17 ficaram em poder do esquadrão de Lanceiros.
         Os Lanceiros e Cavalaria 6, debaixo do Comando do Visconde de Sá, perseguiram o inimigo até Às Vendas Novas, tendo a 2ª brigada acompanhado a Cavalaria até ao alto da Ponte Nova, onde acampou, ficando a divisão aquartelada em Ruivães e nas imediações. Em 19 avançamos até às Boticas e Quintas, onde a divisão acampou, estando ali até à tarde de 20, em que se pôs em marcha para Chaves, por ter sido assinada uma Convenção entre o Visconde das Antas e os dois Marechais, que já tinham reunido a sua força com a do Barão de Leiria. Em resultado dela, emigraram para Espanha os oficiais-generais e alguns oficiais que quiseram acompanhar os Marechais, sendo os mais separados dos corpos e dos quadros do Exército, mandando-se outros oficiais para as unidades convencionadas, em lugar dos que se lhes tiraram.
         Em 24 do mesmo mês, foi desfeita a divisão, marchando os corpos aos quartéis que lhes foram designados. O meu regimento foi para o porto, onde chegou a 29, mas em 1 de Outubro tornou a marchar para Amarante e dali para Braga, onde se conservou por algum tempo, enviando colunas volantes para o Alto Minho para perseguirem uma guerrilheira miguelista, que tinha por chefe um indivíduo que se intitulava Brigadeiro, chamado Tomás das Cangostas.


Retirado do livro “Episódios Militares das Lutas Civis” (1832-1851) de Coronel Ingnácio Augusto Alves e disponibilizado pela Biblioteca do Museu Militar do Porto. Agradecimento especial a David Caetano.




O Combate de Ruivães, ou Acção de Ruivães, foi um confronto militar entre forças opostas do Exército Português, travado a 18 de Setembro de 1837 na localidade de Ruivães, no contexto da Revolta dos Marechais. As forças afectas ao governo, comandadas pelo então 1.º Visconde das Antas, derrotam as forças sublevadas, comandadas pelo então 1.º Barão de Leiria. A vitória governamental determinou o fim da revolta com a assinatura de Convenção de Chaves, que a 7 de Outubro daquele ano determinou a rendição das tropas sublevadas, que ficaram à disposição do governo. Os oficiais foram autorizados a manter os seus postos, mas passaram a ser pagos de acordo com a tarifa de 1719. Os chefes da revolta, o então 1.º Marquês de Saldanha, o 1.º Duque da Terceira, o 1.º Duque de Palmela, José da Silva Carvalho e Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque, foram obrigados a procurar exílio fora de Portugal.

1 comentário:

Anónimo disse...

desde que vi pela primeira vez a referência a este Combate de Ruivães que começou esta procura de informação sobre o mesmo, o contexto pois claro, mas acima de tudo, a vontade de saber onde é que o mesmo teve lugar.
no livro "O Mutilado de Ruivães" que termina com esta passagem (embora não lhe chamem Combate de Ruivães) dá a entender que o Combate se trava à saída de Ruivães ...
no entanto, segundo esta referencia que me foi enviada pelo Museu Militar, parece que o combate terá tido lugar perto da Ponte Velha.

paulo miranda