segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A "Saudade"





Saudade, é um estado de espírito que abala qualquer mortal. Mexe com a nossa mente, dilacera o coração.
Saudade, como dizia o poeta, “é fogo que arde, sente-se mas não se vê”.
Saudade, é mal de que sofro onze meses em cada ano, e só se extingue no mês de férias que sempre passo em Ruivães.
Após percorrer centenas de quilómetros, quando chego à Devesa (ou “casa do Guarda florestal”) e logo de seguida descrevo a curva do Castelo, o coração parece querer saltar para fora da sua caixa, pois é o momento em que do outro lado do rio, placidamente recostado no sopé da Cabreira, vislumbro o velho casario de Ruivães, essa terra minha amada.
Ponho então em acção um ritual que já vem de longe, que é ao mesmo tempo que dou umas valentes buzinadelas, vou aos pulmões buscar todo o ar que contêm, e lanço um sonoro “berro”:
- Ruivães! Eu te amo!...
Minha mulher chama-me maluco, mas… só eu sei o que sinto!
Todos os anos chego a Ruivães um ano mais velho, mas na verdade o que me sinto é um garoto de doze anos, quando banhado em lágrimas fui de lá levado para ser “depositado” num colégio interno na Cova da Iria.
Só voltaria a Ruivães oito anos depois - estava na tropa – por motivo de um grande desgosto para mim, que foi o falecimento do meu avô. Foi ele que me criou, e eu não sabia se chorar por esse homem que foi o meu mentor e herói, se de alegria por ter voltado à terra que me viu nascer para a vida ao fim de oito anos de saudade acumulada no meu coração.
Com meu avô eclipsou-se toda a minha família em Ruivães, e em função disso nasceu em mim o temor de jamais aí voltar.
Mas voltei, outros oito anos depois. Quis o destino que viesse a constituir família com uma ruivanense, e então voltei quando fui pedir a sua mão à mãe dela.
Matei mais uma vez as saudades de tão longa ausência, e daí para cá eis-me em Ruivães em Agosto de cada ano, sentindo essa estadia como que uma ascensão ao Céu.
Não me falem de férias em locais paradisíacos. Para mim, o paraíso terrestre, foi criado por Deus no Norte de Portugal; chama-se Minho, e tem o seu epicentro entre a Cabreira e o Gerês, conhecido por Ruivães.
Já pisei três continentes, estive em três ex-colónias portuguesas, naveguei por três oceanos e dois mares, convivi com gentes de várias raças e culturas, e nada me cativou tanto quanto a essência do meu povo, os hábitos e simpatia da génese minhota, as serras, campos, rios e fontes, a vegetação que dá cor à minha terra tão amada. Sim, o paraíso está cá e eu sou de lá!
Ruivães! Só tu me levas à loucura. És definitivamente o meu grande amor!
Neste ano da graça do Senhor de 2015, lá estive uma vez mais, e após sorver o mesmo ar de quando vim ao mundo, ter reconfortado o coração no reencontro com os meus amigos de infância, como é meu costume parti para a descoberta de inovações na vila, e este ano destaco a intervenção no rio Saltadouro.
Quantas vezes lamentei mesmo aqui, o desprezo votado por quem de direito pelo rio que era ainda assim a razão de muitos ruivanenses aí irem de férias!
Porque não era aproveitado esse potencial, a jóia da coroa da nossa terra, levando o pessoal a procurar outros locais como as praias fluviais de Cabril e Padrões?
Por fim os olhos se abriram, os moucos deixaram de o ser, e eis que o meu querido rio se me deparou transfigurado, lindo quanto baste, um espanto ao olhar.
Fiquei deslumbrado, mais ficarei certamente quando se concluírem os trabalhos, com a construção da represa de que se fala.
Espero também, que se proporcione a quem lá se desloca “a pé” uma outra intervenção, que seria a cereja no topo do bolo, que é a limpeza do caminho que vai da Roca à base da ponte.
Esse caminho que todos nós utilizávamos tanto para o “Traves” como para o “Maria Pereira”, não só proporciona uma agradável frescura, como garante total segurança, ao invés da deslocação pela estrada, extremamente perigosa, com passeios inexistentes e os carros a arrasarem quem por aí circula.
E para meu tormento, Agosto chegou ao fim, lá parti para mais onze meses de saudade a roer-me por dentro, mas se Deus quiser, para o ano lá estarei.
Queridos conterrâneos, espalhados pelo mundo (e por cá), que vivem como eu o amargor da Saudade, não desprezem a vossa terra, amem-na porque foi nela que Deus nos fez vir ao mundo.
Viva Ruivães!

Manuel Joaquim F. Barros

1 comentário:

Anónimo disse...

Em belo relato que retrata bem o amor e a saudade que o seu autor sente por Ruivães. E este é, certamente, um sentimento que assola muitos mais Ruivanenses espalhados pelos quatro cantos do mundo!
Ser Ruivanense é uma forma de estar que só nós, Ruivanenses, entendemos.
Bem haja ao autor deste texto. Que regresse sempre a Ruivães.
Ruivães gosta de o ver por cá!
Ana Miranda Duarte