quinta-feira, 8 de março de 2018

lusco-fusco III

A Poda da Casa do Brás - Espindo


A aldeia de Espindo encontra-se situada no sopé da Serra da Cabreira, localidade muito sujeita a geadas que assim colocam em risco as rebentações temporãs, apenas permitindo a poda por volta de fevereiro ou março, tarefa sazonal de que hoje vos quero falar.
Nem sei bem porquê, mas para mim, a recordação da poda remonta ao tempo do meu avô, em que ainda pequenito já o observava com muita atenção.
Adorava andar com ele no campo e ouvir as suas sábias palavras e as suas estórias, neste caso sobre a poda.
Os podadores já por lá andavam na vinha desde cedo, de tesoura em riste e foice pendurada no cinto por detrás das costas; iria ser precisa para cortar as velhas cepas.
Chegado ao campo e depois da salvação, traduzida num "bom dia" a todos, fazia a vistoria ao trabalho feito. Alguma vinha era velha e de tantas pipas de vinho já dali terem saído, andava cansada e por isso deixar varas em excesso era um abuso para a videira tão antiga, por isso as varas deviam ficar com menos olhos; se de antemão se sabia que no ano seguinte dariam menos cachos também se tinha a certeza que a vinha ficava salva.
O meu avô tinha muita confiança nos "seus" podadores, que após o falecimento do meu pai, havia escolhido a dedo, pois aquela actividade manual era ao mesmo tempo cerebral e técnica e eles sabiam isso quando tinham de tomar decisões, já que cada cepa requeria uma abordagem diferente, mas que eles sempre sabiam como resolver.
E assim ia ouvindo as conversas dos adultos sobre o dia-a-dia, quase sempre acerca do trabalho, uma ou outra notícia do povo e do tempo, mas também sobre as tarefas que faziam e que a brincar deixavam em ditos de sabedoria popular.
Volta e meia lá paravam para matar a sede e fumar um cigarro, da onça comprada na venda do Amadeu do Soares ou da Joaquina do José Maria, mas logo retomavam o trabalho com a mesma confiança e entrega de sempre.
Sentia-me num mundo de magia! E essa magia aumentou quando um dia, com 13 anos apenas, passei a ser eu próprio a dar conta deste recado!
A busca de melhores condições de vida determinou a debandada das gentes deste interior norte para o estrangeiro ou para o litoral, mas o “bichinho” deste trabalho ficou em nós!
Assim, ano após ano ele nos chama e quase todos - Manuel da Vessada, Alvarino, Américo Pereira, Aníbal Pereira, Amadeu Santos, Amadeu Pinto, Norberto Barroca, José Pinto (Joca), André Pinto, Manuel Pereira, Manuel Cera e Ricardo Martins, para além do Romeu Fernandes, Albino Costa, Jorge Rosa e eu próprio -, respondemos à chamada e marcarmos presença.
Para que estas maneiras de trabalhar não fossem esquecidas, a AJA Espindo – Associação Juntos Pela Aldeia de Espindo incluiu a poda da Casa do Brás no âmbito do seu Plano de Atividades e este ano complementou-a com várias execuções de enxertia, até porque podar é também uma arte!
Muita arte se ficou a dever também à Balbina, à Albina e à Palmira, que nos permitiram desfrutar de um excelente repasto.
Guilherme Gonçalves (Casa do Brás – Espindo)












Caminho em Frades (2013)




quarta-feira, 7 de março de 2018

Ruivanenses na I Guerra Mundial



O Corpo Expedicionário Português foi a principal força militar portuguesa que Portugal enviou para França durante a I Guerra Mundial (Grande Guerra ou Guerra de 14). Neste ano 2018 passam 100 anos sobre o fim do conflito, razão pela qual apresentamos a lista dos Sargentos e Praças de Ruivães que integraram o Corpo Expedicionário Português:

Abel Pereira de Campos - 2ºSargento - Regimento de Obuses de Campanha

Alvaro José Machado - Soldado
Brevemente apresentaremos algumas fotografias destes militares. A quem tenha informação que possa complementar estes artigos, desde já agradecemos a colaboração.

lusco-fusco II

Cancela em Frades (2013)




segunda-feira, 5 de março de 2018

Vila

«Enxertias e podagem»




Retirado d' O Jornal de Vieira nº 1056 de 1 de Março de 2018.

«A Câmara Municipal de Vieira do Minho vai promover, pelo quinto ano consecutivo, uma sessão prática de podas e enxertos, no âmbito do seu programa cultural económico e recreativo A acção é gratuita e decorre a 17 de Março, na Casa de Dentro - Capitão Mor, em Ruivães. A concentração dos participantes terá lugar, pelas 14h30, junto ao Posto de Turismo de Vieira do Minho, frente ao antigo Quartel dos Bombeiros, donde partirão para Ruivães em transporte oferecido, pela autarquia vieirense. À chegada, pelas 15h00 haverá uma palestra sobre poda e enxertia ministrada por um técnico da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte. Meia hora depois será a aula prática preparatória dos trabalhos de campo. No fim dos mesmos será o tempo da “prova dos vinhos e degustação de produtos da região” pelos trabalhadores. Os interessados em participar nesta tarde de trabalho agrícola e convívio social devem fazer a sua inscrição em: postodeturismo@cm-vminho.pt. tel. 253 649 240.»

quinta-feira, 1 de março de 2018

Vila à noite

«Cabreira»




Nada me move mais do que uma boa caminhada pelos rudes caminhos da minha aldeia, ora sob o manto da folhagem caída das árvores, ora sob as ervas espontâneas rebeldes e os matos desorganizados, apreciando em deleite a paisagem serrana, respirando o ar inebriante que refresca e alimenta a alma de um provinciano. 
E contemplo o espaço; aquele espaço que rodeia o meu ponto de observação, do qual sempre descubro algo de diferente aqui ou acolá; algo que ainda não havia retido na minha mente: uma árvore, uma rocha, um arbusto, etc.. , sempre a descobrir… 
E a Serra da Cabreira lá está. Aquela serra que me oferece uma paisagem de belo postal, que me saúda e eu saúdo todas as manhãs quando me levanto pela manhã nos dias da minha estadia naquelas paragens. E da varanda da minha casa percorro com o olhar toda a encosta norte, desde Zebral, subindo ao Talefe, descendo a Espindo, voltando a subir à serradela em observação de todos os seus recortes, riachos, colos, caminhos, etc… e paro; paro no negrume com que em Outubro foi coberta depois de flagelada pelas chamas que lhe consumiram o manto verde e lhe levaram a alegria, deixando-a despida, sem vida.
Já o Inverno vai a meio do seu curso e o negrume persiste, dando a sensação de que a serra perdeu o fulgor, que no seu ventre já não existem forças capazes de criar, de se regenerar e dar alegria, como que em sinal de castigo daqueles que a ignoram, a ultrajam, a exploram e não a respeitam. 
Que triste estará aquela cabreira que se apaixonou pelo cavaleiro elegante, e que triste cenário eu vejo decorrido este tempo todo após o flagelo do fogo. O tempo passa, as chuvas lavam a crosta e o homem não intervém: não planta, não semeia, não previne, não acautela, e como se nada se tivesse passado, encolhe os ombros e tapa os ouvidos. 
Devolver a vida à serra não pode passar apenas e só por ações de charme e manifestação de boas intenções, nem esperar que lendas de cabreiras e fidalgos lhe devolvam a beleza, ou que grupos de cidadãos bem-intencionados plantem meia dúzia de espécies num dia de festa. Importa dedicar-lhe trabalho e, com a candidatura aos necessários apoios estatais e/ou comunitários, elaborar estudos que conduzam à valorização do espaço no sentido da criação de infraestruturas (abertura de acessos, construção de reservatórios de água em pontos estratégicos, pontos de observação, etc., etc...) e consequentemente projetos de florestação e reflorestação para que daquela serra se venha a retirar a riqueza que ela há muitos séculos está disposta a dar e que, mesmo mal cuidada, alimentou muitas gerações. 
E nas minhas caminhadas, do ponto de observação, anseio ver o manto verde da Cabreira…
Ruivães, 2018 – 02 – 11 - Fernando Araújo da Silva