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quarta-feira, 3 de abril de 2019

“Miguelistas e Liberais”




«No entanto, tratava-se de um período em que a autoridade estava seriamente ameaçada: tumultos, pequenos motins, banditismo tanto individual como praticado por bandos, fuga à prisão e uma possível tentativa contra a vida do príncipe consorte. Acresce ainda a atividade da guerrilha miguelista, conflitos com as autoridades eclesiásticas, suspensão dos direitos civis e por aí adiante. A oposição mais forte provinha do marquês de Saldanha e do duque da Terceira, que chefiara uma rebelião cartista em julho de 1837 (a Revolta dos Marechais), mas que a certa altura foi derrotada (18 de setembro, em Ruivães). Os setembristas, encabeçados por Sá da bandeira, permaneceram firmemente senhores da situação»

Retirado do livro “Miguelistas e Liberais” de RON B. THOMSON, editado pela Bertrand Editora em Fevereiro de 2019.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

«Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico»




«A técnica de irrigação não é, na origem, mediterrânea. Nasceu em terras ainda mais secas e foi propagada no Sul da Europa por um povo da orla desértica – os árabes – depois de beneficiada com os aperfeiçoamentos que eles lhe introduziram. A forma mais frequente, usada nas grandes huertas espanholas, consiste em abrir um grande canal de desvio num curso de água caudaloso, que muitas vezes se vai procurar logo à saída da montanha: desse canal se faz derivar, através de regos de dimensões cada vez menores, a água para todos os talhões de cultura. Este processo, tão simples quanto engenhoso, exige trabalho aos homens mas dispensa grandes capitais. Ao mesmo tempo implica, no aproveitamento das águas e na conservação dos regos, forte disciplina, respeito de direitos e cumprimento de obrigações. O tribunal de águas é uma organização inseparável destas culturas de regadio.
A par destes processos colectivos, existem várias formas de elevar a água de charcos, poços e ribeiros. A cegonha ou picota, figurada já na Assíria e no Egipto do Império Novo, manejada a braço de homem, a roda elevatória movida pela própria corrente, a nora de tradição mourisca são instrumentos que se prestam à cultura familiar e à pequena exploração.»
«A poça no alto do barranco, ligada quase sempre a uma nascente, e a série de canais dispostos nas encostas quase segundo as curvas de nível parecem constituir o processo mais antigo, usado já no Noroeste em tempos pré-romanos, onde a água de rega permaneceria, desde então, em regime de propriedade comunitária. Foram talvez os romanos que introduziram um instrumento elevatório mais divulgado entre nós, a cegonha, engenho ou picota, que tanto se vê em poços ou charcos como na margem dos rios. Os árabes trouxeram a nora, puxada por animais, dominante no Algarve …»
«Os socalcos, com que se quebra o pendor das encostas e se retém a terra arável, constituem um traço bem marcado em todas as paisagens do Noroeste e da Beira. Estas admiráveis construções, que intrepidamente galgam as serras até 700 ou 800 metros de altitude, exigem um esforço penoso e vigilante: porque as enxurradas e um Inverno mais chuvoso abrem nelas grandes sulcos, por onde toda a obra se desmoronaria se não fosse rapidamente reparada. Também aí se pratica a rega pelo processo da poça e dos canais em níveis sucessivamente menos elevados, de modo que a água, recolhida no alto do barranco, fertiliza-o e percorre-o de cima a baixo.
A difusão da cultura do milho foi sem dúvida o motivo de se divulgarem os socalcos, depois aplicados a culturas de sequeiro que se expandiram em data mais recente …»
«Os instrumentos de moer o grão têm todos origem mediterrânea; a própria mó manual (molineta), ainda usada no Algarve, por exemplo, como na Espanha e no Magrebe, que deve à sua simplicidade emprego muito geral, persistiu neste ambiente em extremo conservador. Os romanos trouxeram o moinho de água, de rodízio horizontal; os árabes, a azenha, de roda vertical, mais potente, ambos movidos pela força da corrente de rios e ribeiros, que é preciso reter por meio de açudes e desviar por canais; as relações medievais com o Oriente divulgaram, no tempo das Cruzadas, o moinho de vento…»
«Os meios de transporte levam-nos à época romana, com o plastrum, antepassado do carro de bois de eixo móvel de madeira e roda cheia ou pouco vasada, o carpentum, de roda radiada, representado pelo pesado carro alentejano. Isto não quer dizer que a introdução do carro, documentado aliás na arte rupestre da Estremadura espanhola desde o calcolítico, se fizesse nesta época, mas é nela que os actuais encontram os seus paradigmas.
O eixo móvel e a trcção pelos bois desapareceram do Alentejo ainda não há um século, sunstituidos pelo carro de muares, animais também empregados nos trabalhos agrícolas. (…) No Norte persiste todavia o tipo primitivo, e o boi é o único animal atrelado, por meio de jugos ou cangas, consoante os caminhos requerem mais ou menos firmeza no puxar e equilíbrio na posição do carro.»
«As ceifas do Alentejo atraem grandes camaradas de trabalhadores. Sob direcção de um manageiro, vindos anos seguidos dos mesmos lugares, os ratinhos descem das montanhas mais pobres de Portugal: pequenos, delgados e nervosos, investem com denodo as searas mais opulentas.»
«O Norte transmontano. Quer se entre em Trás-os-Montes pela estrada de Braga a Montalegre, ao longo das vertentes do Cávado, quer se atravesse o Marão, o contraste é nítido. A paisagem carrega-se de tonsseveros, cinzentos, acastanhados. A luz torna-se mais crua, a terra mais dura e a gente mais retraída. Na mole ondulação do terreno, perde-se muitas vezes o sentimento da altitude: montanha ou planura? …»

Alguns apontamentos retirados do livro «Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico» de Orlando Ribeiro (1941)

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

«Minas da Borralha»








«Paralelamente, a ideia de aprofundar a investigação ganha forma. Começa a desenhar-se uma extensão natural do Arquivo Imaterial das Minas da Borralha, que sistematize o conhecimento e a experiência adquiridas nos últimos anos. (…) Durante cerca de três anos, completamente a expensas próprias, motivado pela resiliência e alguma teimosia, alheio ao fenómeno do desemprego, que experimentei durante largos meses, exploro os principais arquivos mineiros do país na tentativa de interpretar o puzzle que é a história das Minas da Borralha.»

Retirado do livro “Minas da Borralha” de Pedro Araújo – 1ª edição: Março 2017



No extremo sul do concelho de Montalegre, na fronteira com o concelho de Vieira do Minho, com vista para o imenso Gerês e na sombra da serra da Cabreira repousou, durante séculos, uma das maiores jazidas de volfrâmio do país.
Descobertas por acaso do destino por um moleiro ainda no século XIX, as Minas da Borralha rapidamente se tornaram no epicentro de uma indústria que se veio a revelar fundamental para a economia nacional. A imensa riqueza do subsolo barrosão logrou atrair dezenas de milhares de operários que, durante décadas, construiram de raiz um dos mais sofisticados e cosmopolitas centros mineiros de Portugal.
Acompanhar a história das Minas da Borralha é conhecer uma parcela muito significativa da história do subsetor do volfrâmio no século XX. Das dificuldades de instalação da concessionária, das crises dos períodos pós conflitos mundiais, passando pela sombria década de 1920 e início de 1930 até aos fenómenos de contrabando do volfrâmio, em larga e pequena escala, sobretudo na primeira metade da década de 1940.
Apresenta-se aqui a primeira parte da história do Couto Mineiro da Borralha, desde a sua origem, em 1900, até ao início da década de 1950, onde será desenhado um novo paradigma industrial no que ao subsetor do volfrâmio diz respeito.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Pelourinho de Ruivães







(carregar nas imagens para maior visualização)


Retirado do livro "Pelourinhos do Distrito de Braga" de Júlio Rocha e Sousa.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

«Para que a memória não se apague»







«A Guarda Fiscal e os seus postos fiscais são uma parte importante da história de uma aldeia raiana, nos séculos XIX e XX, e do percurso de vida dos seus habitantes. Muitos guardas-fiscais casaram nas diversas aldeias, constituíram família alugavam casa e horta e fixava-se também na aldeia. Depressa se integravam na comunidade local e no modo de vida dos residentes. Sentiam depressa a pobreza das gentes da terra e, por isso, procuravam executar o serviço com o menor transtorno para ambas as partes. Não perdoavam mas procuravam também eles sobreviver.»

quarta-feira, 8 de abril de 2015

COROGRAFIA PORTUGUESA E DESCRIÇÃO TOPOGRÁFICA DO FAMOSO REINO DE PORTUGAL (Ano 1706)










COROGRAFIA PORTUGUESA E DESCRIÇÃO TOPOGRÁFICA DO FAMOSO REINO DE PORTUGAL, com as noticias das fundações das Cidades, Vilas e Lugares, que contem, Varões ilustres, Genealogias das Famílias Nobres, fundações de Conventos, Catálogos dos Bispos, antiguidades, maravilhas da natureza, edifcícios, e outras curiosas observações. 

TOMO PRIMEIRO

DA COROGRAFIA PORTUGUESA

(…)

LIVRO SEGUNDO

Da Província de Trás os Montes.

(…)

TRATADO III:

Da Comarca, e Ouvidoria de Bragança.

(…)

C A P. VII.

Da Vila de Ruivães.

No Arcebispado de Braga dez léguas da Vila de Chaves para o Poente e seis de Montalegre tem seu assento a Vila de Ruivães do Estado da Casa de Bragança, cujo Ouvidor entra nela em Correição, e o Provedor da Comarca de Guimarães: é a última vila da província de Trás os Montes para a banda do Poente, pela qual confina com a província do Minho, e já nela, e seu termo se acham parreiras levantadas nos carvalhos, como no Minho. Tem setenta vizinhos com uma Paroquia da invocação de S. Martinho, e estes lugares pertencentes à mesma freguesia: Espindo com trinta vizinhos, Honras com vinte, Frades com quinze, e Zebral com vinte e oito.

O seu termo tem uma freguesia dedicada a S. Vicente com quarenta vizinhos no lugar de Campos, e vinte e nove no de Lamalonga. Fafião tem dezoito vizinhos, e Pincães doze, que vão à Missa a S. Lourenço de Cabril, termo de Montalegre. Linharelhos tem nove vizinhos, e Caniçó quinze, que vão a S. Maria de Salto, termo da Vila de Montalegre. 



Retirado do livro "Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso Reyno de Portugal, com as noticias das fundações das cidades, villas, & lugares, que contem; varões illustres, gealogias das familias nobres, fundações de conventos, catalogos dos Bispos, antiguidades, maravilhas da natureza, edificios, & outras curiosas observaçoens" Tomo primeyro / Author o P. Antonio Carvalho da Costa Lisboa : na officina de Valentim da Costa Deslandes impressor de Sua Magestade, & á sua custa impresso, 1706.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

À Descoberta de Portugal


(carregar na imagem para aumentar)


Ruivães

Antiga vila que ainda conserva o pelourinho e onde se travou uma batalha das lutas liberais em 18 de Setembro de 1837, é também famosa pela macia e saborosa carne dos seus bois.
Dos fartos motivos de interesse paisagístico há três que se sobrepujam: a Ponte da Misarela, românica, que, sobre o Rio Rabagão vence a profunda ravina cortada na rocha a pique e a que o povo chama Ponte do Diabo, por temer a velocíssima corrente que vem em catadupas no Inverno; o rio do Saltadouro, pequeno afluente do Cávado, nascido na serra da Cabreira, que, como o seu próprio nome indicam salta de pedra em pedra, formando ora belas cascatas, ora pequenos poços chamados localmente de caldeirões, de que o mais conhecido é o Caldeirão do Poço Negro, no lugar de Zebral, e o Toco, um dos locais mais pitorescos da bela serra da Cabreira, onde ainda é possível encontrar lobos e raposas nas fragas alcantiladas e na densa mata de carvalhos. 




Retirado do livro «À Descoberta de Portugal» das Selecções do Reader's Digest de 1982.



 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

«A arte do granito»


Um dos traços mais impressionantes da civilização do Norte de Portugal é certamente a mestria na construção de granito. Nas casas, nos muros, nos suportes, nos monumentos, a pedra constitui sempre o principal material de construção. Terrenos de maciço antigo dispõem de granito, de xisto e de quartzite. A ultima rocha é muito dura, pesada e difícil de trabalhar; o seu uso é limitado a raras povoações muito rústicas assentes nas próprias surgências, usando-se em muitas delas a par com o xisto. Este extrai-se das pedreiras em lascas que não carecem de nenhum preparo para se sobreporem, ou em placas de ardósia, usadas como cobertura em certas áreas de montanha e, nalgumas cidades (Porto, Viseu, etc.), como revestimento de paredes de tabique. Mas é raro que o xisto dê grandes blocos resistentes: nas casas humildes recorre-se à madeira para os lintéis das portas, nas melhores às ombreiras de granito. Alguns castelos de xisto, grosseiramente aparelhados, têm também cunhais de granito, lavrados com outro esmero. O papel essencial que desempenham na construção pode avaliar-se pela pena aplicada a certos deles na Idade Média: retirar-lhes os cunhais; na falta deste apoio, o resto da muralha não tardava a ruir. Os reis castigavam assim os atrevimentos feudais de certos senhores, tão ciosos da sua autonomia como aqueles da centralização monárquica. Onde os dois materiais existem lado a lado, a preferência pelo granito é manifesta. Em terras xistentas pode dizer-se que qualquer construção importante – igreja, castelo ou solar – raro é que não empregue esta rocha. É portanto no granito que se devem procurar as expressões mais perfeitas, ou mais ousadas, de uma arquitectura popular de pedra.
A extracção, ainda hoje, é feita à mão e por processos rudimentares (figura 1). Uma barra fina e aguçada, cuja ponta se mantém alternadamente em duas posições cruzadas, vigorosamente martelada, funciona como broca. Um tiro de pólvora de fogueteiro é o máximo com que a técnica moderna contribui. O alvião, a picareta, o martelo e a marreta fazem o resto. Para obter uma fractura alinhada, marcam-se os guilhos ou cunhos uns pontos pouco espaçados; enterrando-os na rocha por percussão, esta não tarda a estalar. Os blocos assim obtidos, desbastados e alisados, podem tomar a forma que se deseje.
Usam-se na construção de paredes de casas vários tipos de aparelho. Nas habitações mais antigas e de tipo mais rústico, nos anexos de lavoura, empregam-se blocos de várias formas e tamanhos, que se ajustam e travam pelas próprias irregularidades (est. IV); o uso de argamassa não é geral e denota um aperfeiçoamento do processo de construção. Os cunhais e molduras são, mesmo em habitações humildes, feitos de grandes blocos regulares. As boas casas de aldeia, muitas vezes datadas do século XVIII – correspondentes a um período de prosperidade alimentada pelas minas do Brasil, quando o Norte ministrava já grandes contingentes à emigração – usam um aparelho regular, de blocos grandes mas desiguais, tão perfeitamente sobrepostos que dispensam argamassa (est. V). Os enormes lintéis das portas são quase sempre a maior pedra da construção. Estes tipos ocorrem em todo o Norte granítico de Portugal. Os solares da fidalguia rural tomam quase sempre um cunho artístico e a pedra aparece neles finalmente lavrada (est. V e VI).
No Minho tem-se generalizado modernamente um tipo especial – a paleta - , um bloco rectangular sempre na mesma dimensão, que se sobrepõe com regularidade, desencontrando as juntas verticais. Com grande firmeza de mão, os pedreiros fabricam dezenas delas ao fim de um dia. Eles próprios gabam as suas vantagens: sempre iguais, fáceis de transportar, permitem mudar uma casa de um sítio para outro aproveitando o material de que é feita.
(…)
O maior virtuosismo no trabalho do granito está, porém, nos esteios de vinha, que podem alcançar três metros de altura, com uns dedos apenas de largura (ests. VII e VIII B). Assim como a pasta é o granito talhado em «paus», altos, finos e incrivelmente direitos. Tão delgados que não resistiriam ao transporte individual: assim, vêm da pedreira geralmente aos pares, apontando-se os guilhos para a separação final no lugar onde vão ser utilizados. A distribuição dos esteios, destinados a suspender as ramadas, é proximamente a da vinha alta ou de enforcado. No planalto da Beira Alta, onde se pratica com grande generalidade a rega à picota, usam-se, a par da forquilha de madeira, um ou dois esteios de granito, mais baixos e mais largos que os de vinha, onde gira a vara que forma o balancé.
Onde a arte do granito alcança maior finura é geralmente no espigueiro ou canastro para secar as maçarocas de milho (ext. IX). Na origem, este anexo inevitável de toda a casa rural é uma espécie de cesto de vime entrançado e coberto de palha, donde lhe vem um dos nomes mais conhecido. Foi talvez a introdução do milho americano que suscitou, pela maiores colheitas, o emprego de construções mais vastas e duradouras. Junto do espigueiro fica a eira, uma simples laje natural ou, na falta dela, uma construção de blocos de granito, de grandes dimensões; noutros lugares usa-se a eira de terra batida, que se prepara todos os anos antes das malhas, amassada com bosta e calcada a pé de ovelha. Eira permanente e espigueiro acompanham, na Beira Litoral e no ocidente de Trás-os-Montes, a difusão do milho como cereal preponderante no preparo do pão.
Em todo o Norte atlântico os limites dos campos são formados de renques de árvores ou arbustos; mas as bouças, onde se roça o mato e crescem os pinheiros e carvalhos, e os lameiros ou prados permanentes, ao mesmo tempo lugares de pastagem e corte de feno, são cuidadosamente resguardados com muros de pedra solta. Da mesma forma, nos declives, os canteiros ou arretos destinados a suster a terra. As calçadas de grandes lajes são frequentes, nas ruas e largos das cidades e lugarejos e nos caminhos e serventias. Algumas aproveitam as velhas estradas romanas, outras continuam o mesmo processo de construção. Um passeio elevado acompanha as ruas, onde se curte o estrume, e o fundo dos valeiros empapado nas águas dos lameiros. São de pedra as poldras com que se atravessa o regato e o pontão rústico com que se passa o ribeiro: não apenas suportes mas as próprias «pranchas» que cobrem o vão entre eles.
Utensílios de granito, além das mós e das pedras de lagar, reduzem-se à salgadeira, onde se guarda a carne e a gordura de porco, à pia dos cevados e à escudela das galinhas, certamente sugeridas por simples cavidades praticadas na rocha, também de largo emprego; às vezes usam-se «argolas» encastradas nas paredes das casas ou quinteiros, para prender as montadas, que no Sul são sempre de ferro, excepto nas regiões calcárias onde também se fazem de pedra.
O Minho mostra assim, no trabalho do granito, todos os processos correntes e ainda os mais finos, que aí são confinados. Uma aplicação à técnica moderna é o calcetamento das estradas principais com paralelepípedos, preparados nas pedreiras junto a Vila Nova de Gaia, apreciados dos construtores pela sua duração e dos automobilistas pela segurança com que as rodas se agarram ao piso. Nos aspectos da natureza e nas obras humanas, o granito é um traço essencial da paisagem da maior extensão do Norte do País. Segundo a formula em voga, se existe uma «civilização do granito» é este um dos lugares do globo onde ela se torna uma expressão mais completa. (2)

(1) Emprega-se aqui «arte» no sentido popular e corrente, onde cabe também o sentido restrito da arte culta.
(2) Um geólogo minhoto foi sensível a esta originalidade:«Tirem ao homem do noroeste peninsular este maravilhoso elemento e será toda uma civilização que desaba.» (Carlos Teixiera, Alguns aspectos da geologia dos granitos do Norte de Portugal, Porto, 1945)



Retirado do livro GEOGRAFIA E CIVILIZAÇÃO de Orlando Ribeiro Fac-Simile da 1ª Edição (1961) de 2013. 





sábado, 29 de junho de 2013

A Alma de um Povo





« A Alma de um Povo é feita de sacrifícios ao longo de gerações. São as vivências que moldam o génio e a glória popular, não raras vezes desconhecidos e ocultos na obscuridade temporal. Para desvendar o mistério da nossa origem é essencial a oralidade. Esta por si só guia-nos até à verdade, revela-nos os segredos mais virtuosos outrora garantes da coesão e do bem-estar social, permite conhecer a nossa própria identidade, presente em cada um de nós, e que se concretiza no nosso raio de acção. 
Ninguém melhor conta o nosso passado do que nós próprios, através de elos que nos ligam a esse passado que ora jaz na memoria dos mais velhos. Essa corrente manteve-se até aos nossos dias e, hoje, mais que nunca cabe-nos não quebrar esse frágil fio condutor, que devemos fortalecer na mente dos nossos filhos. »

Livro “A Alma de um Povo” de Agostinho Veras. 




Sendo um livro centrado no lugar de Sidrós e Vila Nova, faz-se aqui referência dado a proximidade com a freguesia de Ruivães (diversas vezes referida no livro) e a semelhança nos costumes e tradições.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

«Histórias do Contrabando... e não só!»







Se houver interessados para este livro pode dirigir-se a (fernandocbravo@hotmail.com) ou (Apartado 38 - 5400-909 CHAVES).
Preço (correio incluído) - 15,00€.




domingo, 27 de janeiro de 2013

O Mutilado de Ruivães - Recensão





Recensão elaborada por Fernanda Botelho em 1986 para a Fundação Calouste Gulbenkian e disponível aqui.

domingo, 4 de novembro de 2012

Mistério na Cabreira, por Ermelinda de Jesus Silva



(carregar nas imagens para aumentar)


Capa e contra-capa do livro "Mistério na Cabreira", por Ermelinda de Jesus Silva.

sábado, 7 de novembro de 2009

Livro: Aldeia de Pincães


 



Boa tarde.

Gostei do V/ " SÍTIO " e desta página.

Será possível incluírem um bocadinho do livro Aldeia de Pincães, em anexo, nesta página do V/ Sítio?


Para comprar o livro deve procurar em Pincães o Vice-Presidete do Conselho Directivo, Domingos Martins Gonçalves ( junto da Capela ). Custa 15 €.

Se tiver dificuldades, por favor, fale comigo. Por correio ou pessoalmente, terá o livro. Eu moro em Braga e vou todas as semanas a Cabril.

Cumprimentos,
Fernando Guimarães

****



A história de Ruivães é também feita em parte pela história dos lugares e freguesias que pertenceram a Ruivães até à Reforma Administrativa de 1853, como é o caso de Pincães. Razão pela qual se justifica a publicação destes itens referentes ao livro ALDEIA DE PINCÃES, gentilmente cedidos pelo seu autor.   




domingo, 18 de maio de 2008

O pequeno alberto

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Nota da Autora

Tudo quanto aqui é descrito resultou da convivência com o Pároco que me baptizou. Se parecer crítica, isso está relacionado também com a figura controversa que foi Monsenhor Alberto de quem me propus falar.

Sei que ele me estimava, respeitava e até admirava, mesmo quando estivemos em desacordo. Daí que me atreva o oferecer este texto ao leitor e a homenageá-lo mais uma vez, prefigurando nesta atitude, um contributo para a futura Monografia de Ruivães.

Procuro aqui que as virtudes se sobreponham aos defeitos quando relato factos que possam, eventualmente, ser objecto de reparo; isto só foi possível porque a este homem sobraram-lhe características humanas positivas. Sabe disso quem o conheceu bem.

A História de Ruivães já no pode ser contada sem o Padre Alberto quer queiram quer não. E é bom que as pessoas de valor não caiam no esquecimento das entidades que têm como dever perpetuar a memória dos seus melhores.

Um dia outros acrescentarão este percurso solitário, talvez com artes mais eruditas e relatos novos.

Omitem-se nomes de pessoas, excepto dois ou três pela sua importância na explicação dos pormenores em que se inserem, dado que, para escrever estas páginas e as publicar, no consultei sendo a minha memória, embora agradeça ao eleito o privilégio de mas possibilitar escrever.

A forma mais afectuosa e próxima que encontrei para tratar o meu Pároco foi a dupla de letras pequeno alberto!

Ele que me desculpe. Um Guerreiro Gigante, a desafiar e/ou contemplar o Mundo com olhar de Buda, nunca será um anão!!!



Ermelinda Silva





Síntese Biográfica

Padre Alberto José Gonçalves, nasceu em 18 de Maio de 1925 na Póvoa de Lanhoso, Fontarcada. Era filho de António José Gonçalves e Ermelinda de Jesus Lopes.

 Iniciou os estudos no Seminário de Nosso Senhora da Conceição em Braga, dia de Nossa Senhora do Rosário, a 7 de Outubro de 1938, com 13 anos de idade.

Foi ordenado Sacerdote, dia da Anunciação do Senhor, a 25 de Março de 1950, na Igreja do Seminário Conciliar.

Celebrou Missa Nova em Fontarcada no dia 16 de Abril de 1950.

 A 12 de Junho do mesmo ano, concluiu o Curso Teológico – ano em que já era Prefeito do Seminário.

Tomou posse das Paróquias de Ruivães e Campos no dia de São Bartolomeu, a 24 de Agosto do mesmo ano.

Mais tarde, em Março de 1977, foi nomeado Pároco de Salamonde.

Criou o Posto da Telescola em Ruivães em 1968 – oficializado em 1970.

Abriu o Colégio S. Martinho de Ruivães em 1970.

Exerceu o cargo de Presidente da Junta de Freguesia entre 1960 e 1974.

Em 1993, aposentado da Telescola, lecciona na Escola das Minas da Borralha.

A 25 de Novembro desse mesmo ano é eleito e confirmado nas funções Arcipreste do Concelho de Vieira do Minho.

Em 1993 nasceu a ideia do Mini-Lar, concluído em 1998.

Foi elevado a Monsenhor em 22 de Agosto de 1995.

Faleceu a 14 de Dezembro de 2003, rodeado de muito carinho, na Paróquia que o recebeu quando foi ordenado Sacerdote.





Breve Narrativa

Teria os seus doze anitos quando ao voltar do mês de Maria, cavaqueando quase em silêncio mútuo com um dos seus colegas, pelos caminhos que iam dar à Casa da Mãe, lhe perguntava:

- Ó José, será que eu tenho jeito para ir pró Seminário? - ainda não sabia o que era falar em vocação – !

- E continuava: é que sinto o meu coração apertado e fica muito pequenino e a bater, quando na Missa e no Terço olho muito tempo para o Senhor Abade!

- O outro respondia-lhe:

Olha, Alberto eu não vou porque depois tenho de viver

sozinho, sem filhos e sem família, só com a criada. Não vês o Senhor Prior? Eu quero muita gente em casa, ir por esse mundo fora, conhecer e aprender com a vida sem ter que me matar a estudar. Além disso tenho aqui as recordações na pele que a nossa professora primária me deixou das reguadas que me deu. Não me apetece estudar mais. Antes quero ser vadio do que voltar aos livros.

O Alberto, olhou-o pelo cantinho do olho, riu-se para si mesmo, fez uma grande pausa, bateu com uma vara nos muros do caminho por onde passava, assobiou aos pássaros, olhou o Céu e disse ao outro: - Já decidi. Vou para o Seminário. E vai ser a primeira noticia que vou dar a minha querida mãezinha neste mes de Maio.

(...)





Título: O pequeno Alberto

Autora: Ermelinda de Jesus Silva

Composição e Impressão: Grafipóvoa, Lda.

Tiragem: 500 exemplares

1ª Edição: Agosto de 2004

Depósito Legal: 215212/04









Artigo corrigido em 21 de Maio de 2008.


sábado, 22 de março de 2008

O Mutilado de Ruivães












Mais precisamente no Século XIX o romance histórico floresceu e marcou sua época.

Mas, de quando em quando, num eterno vaivém de ressaca de mar, ele vai aparecendo aqui e acolá. È que, singularmente considerado, este género literário transporta sempre cargas ou motivações ideológicas, estéticas ou culturais.

Assim, importa atender aos pendores naturais dos estudiosos na prospecção dos factos históricos das diversas fontes de informação.

E convém desde já esclarecer que, no caso presente, foi a tradição oral, uma das fontes primárias, que mais cuidadosamente foi desenvolvida e confrontada, sempre na mira de achar a verdade.

Este género criou, desde logo, raízes fundas na alma do Povo, nesse povo que tanto acarinha e sente as gestas e as virtudes dos seus Maiores. Só isto bastaria para formar o conceito e, até, uma filosofia da história, como ponto de partida para a narração de «o todo» duma Grei que lhe deu fixidez, beleza, alma e vida na perenidade gráfica do prelo.

Decididamente, o romance histórico é um juízo de valor didáctico-pedagógico, e da maior importância cultural e sentimental.

Bifurcado em objectivos diferentes, este trabalho nada tem a ver com literatura mais ou menos engenhosa, nem prossegue fins materiais.

Negar, em suma, merecimento ao romance histórico é enveredar por um cepticismo tal que mais valeria dobrar a finados por quem assim o julga e pensa porque, esse, já se estrangulou vítima do seu raciocínio estático.

 Exacto. Quebre-se o pragmatismo, jogue-se na opinião da crítica. E, segundo os cânones, a uma só voz, proclame-se:



NlHll. OBSTAT. IMPRIMATUR





LIVRARIA CRUZ

BRAGA







Nota de abertura:



A história das pequenas terras vai ficando esquecida diante de certos fenómenos sócio-económicos, derivados do urbanismo avassalador; apagam-se da lembrança dos homens os feitos dos seus antepassados; olvidam-se os fastos de outrora; morre a gesta da tradição, a prática das virtudes ancestrais, a nobreza dos bons costumes regidos na austeridade de princípios morais ainda hoje indiscutíveis, que foram as pedras com que se construiu a Nação, a fizeram grande e a levaram a expandir-se pelo Mundo. Morreu no coração dos homens a poesia que envolve as coisas belas que o Passado nos legou; secaram-se as fontes que nasciam da alma e corriam límpidas para o mar da fantasia e do sonho, mas que ajudavam a viver.


sábado, 9 de fevereiro de 2008

Ruivães nas Memórias Paroquiais de 1758











Freguesia de Sancto Martinho da Villa de Ruivaes.


Fica esta freguesia de São Martinho da villa de Ruivães na Província de Trás-os-Montes, e confontando immediatamente com a Província do Minho, pertencente à Comarca e Arcebispado de Braga, por estar no seu districto, de cuja freguesia, he cabeça, e matriz, esta mesma villa de Ruivães, termo da mesma.


Hé a dita vilia de Ruivães, de El Rei que Deos goarde, e se acha no limite da Serenissíma Caza de Bragança, sem que nela se conhecesse, em tempo algum, Donatário, e só sim Sua Magestade como Senhor della.

Tem a dita villa sessenta e oito vezinhos, e duzentos, e noventa e nove pessoas, não falando nas mais que estão dispersas pelos mais lugares da freguesia, os quaes abaixo se declararão, que por todas são oitocentas e sinquoenta pessoas de Sacramento.

Está situada em hum valle, sem que della se descubrão povoações, e só sim montes, e serras como ha da Cabreira, e passa da do Gerês.

Tem a dita villa de Ruivães seu termo, que comprehende os lugares seguintes: Quintã, que tem sete vezinhos; Valle, com quatorze vezinhos; Espindo, com vinte e oito vezinhos; Zebral, com vinte e nove vezinhos; Botica, com doze vezinhos; Santa Leocádia, com seis vezinhos; Soutêllos, com tres vezinhos; Frades, com quinze vezinhos; Campos, com trinta e sete vezinhos; Lama Longa, com vinte e nove; Linharelhos, com dez vezinhos; Caniçó, com quinze vezinhos; Fafião com vinte e tres vezinhos; Pincães com seis vezinhos; Ponte com hum vezinho; e Chã de Moinho com dous vezinhos; que por todos os vezinhos, que tem o dito termo, são trezentos e sinco.


Está a Paróchia e igreja matriz desta villa e freguesia de São Martinho da villa de Ruivães, na entrada da mesma vilia, vindo da parte do concelho da villa de Montalegre, e tem os lugares seguintes: Quintã: Valle; Espindo; Zebral; Botica; Santa Leocàdia; Soutellos e Frades.

He o Orago da dita Igreja matriz, São Martinho de Ruivaes, cuja Igreja tem sete altares, a saber, o altar mor, e seis colleteraes; no altar mor está collocado o Santíssimo Sacramento e a imagem do Santo do Orago; e os colleteraes, hum he de Nossa Senhora do Rozário, outro he do Santo Nome de Deos outro he de São Domingos outro he das Almas outro he de Sao Bartolomeu e outro he de sao Sebastiao; e na mesma Igreja ha a Irmandade das almas, e nenhua outra.

Hé Reitor o Parocho da dita Igreja, e da apresentação do Reitor da Santa Maria de Veade e tem de renda hum anno por outro duzentos mil réis.

Não tem Beneficiados, nem conventos de Religiosos ou Religiosas, nem Hospital, nem Caza de Misericórdia.

Tem esta vilia dentro em si tão somente hua Cappella particular do Cappitão mor da mesma, com a invocação de Nossa Senhora da Conceição e fora da mesma villa pegado quasi a ella, ha outra de Sancto Amaro, e mais desviado della, outra de São Christovão. E no lugar de Espinho outra de Santa Isabel, e no lugar de Zebral outra de São Pedro, e no lugar da Botica outra de Nossa dos Remédios, e no lugar de Frades outra de São Paio e nella também estão a Senhora do Amparo e São José, as quaes não são particulares, menos a da Senhora da Conceição, como já disse.

Não há romagens alguas a Santos, ou a capelas e ermidas desta villa ou cappellas da dita freguezia, sendo tão somente ao glorioso São Bartolomeu collocado esta igreja matriz, com o seu dia de vinte e quatro de Agosto, aonde concorrem muitas pessoas tão somente das freguesias circunvizinhas, e tam alguàs do Reino de Galiza, que estas e ainda muitas das outras vem a comprar sal, que ali vem em carros da beira mar.


Os fructos que nessa freguesia se recolhem em maior abundancia, he milho grosso, a que chamão mais, e miudo ou por outro nome albo, e tambem centeio, ainda que este he mais pouco; e juntamente se recolhe vinho de enforcado bastantemente verde, e àspero, com suficiente quantidade: excepto o do lugar de Frades desta freguesia, que esse he muito bom na qualidade de verde por ficar em hua ribeira; porém nos lugares de Zebral e Botica, se não colhe vinho algum. Produz muito bem castanha esta freguesia mas colhe-se muito pouco azeite.


Há juiz ordinário nesta villa de Ruivães, e Camera cujos officiaes, e juiz são elleitos por elleição de pilouros de tres em tres annos, por elleição que vem fazer o Doutor Ouvidor de Bragança, que remette a Sua Magestade que Deos goarde, e depois vem do dito Senhor elleição cada anno, dos que hão de servir os ditos cargos, e a nenhuà outra justiça estão sujeitos, excepto ao dito Doutor Ouvidor e a este he tão somente por appresentação ou agravo.

Hé esta vilia cabeça de Concelho, e não Couto, nem Behetria.

Não consta que desta, ou seu termo florescessem ou dela sahissem homens insignes por virtudes, letras ou armas.

Alguns annos passados houve feira franca nesta villa, em o dia vinte e seis de cada mes, porem foi se extinguindo em termos que ja ha tempos a nao ha nem nisso se cuida. Nao ha correio nesta terra, e se servem os moradores desta, dos correios da Cidade de Braga, e do da villa de Guimares, que hum e outro distão desta villa seis legoas.

Dista esta villa seis legoas da Cidade de Braga capital deste Arcebispado e sessenta e seis de Lisboa capital deste Reino.

Não tem esta terra privilegio algum ou antiguidades, nem couza digna de memoria, sendo tão somente ser da Serenissíma Casa de Bragança.

E quando ao vigessimo 3.º, 24, 25, 26 e 27 interrogatorios (contheudos) quanto à terra, nada hà que dizer, por nada haver do que se pergunta, nem mais que declarar, a respeito da terra.

Qto a Serra

Ha hua que corre por parte do lemite desta freguesia a que chamão a Serra da Cabreira a qual he muito alta no dito lemite, que de muita parte della se descobre o mar que fica distante della honze legoas.

Tem seu principio na Cruz de Real freguesia de São Julião de Taboaços, Concelho de Vieira, e chega à freguesia de Santa Maria de Salto, e tem de cumprido oito legoas, e de largura meia legoa em partes e em outras hua, pouco mais ou menos.


Nasce na lemitte da dita serra no sitio do Marco do Touro freguesia de Salto hum regato que corre de nascente ao poente, e dipois vai fender no lemitte desta freguesia de Ruivães ao Rio Câvado, inclinado ao norte o dito fenecimento, sem que o dito regato seja navegàvel, por ser como he pequeno e dispenhado.


Tem a dita serra ao longo desta da parte desta freguesia, tão somente o lugar de Zebral, e o de Espinho; e não consta que nesta haja fontes de propriedade rara, nem minas de metaes canteiros de pedras, ou outros materiaes de estimaçao.


He a dita serra tão somente povoada de matos, urzes, carqueija e carvalhos, sem que conste tenha ou produza outras plantas e ervas medicinais, e com alguã parte dela se fazem cavadas para centeio, que he unicamente o fructo, ainda que pouco, que nesta se colhe, e não hà nella mMosteiros, igrejas, ou imagens milagrosas.


Hé a dita serra de seu temperamento muito fria, aonde, por alta asenta mais a neve e nesta perdura muito tempo, principalmente no lemitte desta freguesia.


Nesta pastão muitos gados grandes, como bois e vacas, e tambem miudos como cabras e ovelhas, e no tempo do Verão nella dormem muitos dos ditos gados grandes e tambem nesta hà muitas perdizes, coelhos e alguns lobos que nesta tambem aonde se esconderam e criaram, e tambem alguns javalizes; e nella não hà lagôa algua, somente há nella hum fojo no lemitte desta freguesia a que chamão o fojo do Confurco, e mais dous no sitio de Chão de Pereiro lemitte do Concelho desta villa de Ruivães, aos quaes chamão os fojos de Bragâdos, que hum destes he pertencente aos moradores deste concelho, e o outro que està para a parte do poente, he dos moradores do concelho de Vieira, ainda que está no lemitte desta villa de Ruivães.


E não há mais que dizer quanto à Serra.

Quanto ao Rio


Passa ao longo desta freguesia de Ruivães hum rio, a que chamão o Cávado, que corre de nascente ao poente o qual nasce e tem seu principio no lugar de Codeçozo freguesia de Meixedo concelho da vilia de Montealegre desta Provincia de Trás os Montes, e distante desta villa seis legoas o dito nascimento.

No enquanto ao dito rio se não juntão outros regatos, não he caudalozo, porém dipois que nelle se junta o regato que vem de Pisões e entra no dito rio Câvado na freguesia de Parada de Outeiro, e o regato que vai da Mizarêlla que entra no dito rio Câvado entre esta freguesia e a de Santa Marinha de Ferrel, desde este sitio corre caudalozo e arrebatado por se ter congrossâdo com os ditos regatos, o qual corre todo o anno.

Não he navegável, nem capaz de embarcações, por ser despinhado em partes e em outras muitos fraqueados, e somente em alguns sitios se usa de barco para passar a gente de huà para outra parte.

Hé de curso arrebatado principalmente desde que nelle invocão os dous regatos de Pisões, e Mizarella de que assima faço menção, e assim vai, no mesmo curso arrebatado the chegar ao sitio da ponte de Prado, que a hi vai já mais manso aquanto, por ser terra mais cham e sitio mais largo.
Corre o dito rio, de nascente ao poente em toda a sua distancia.

Cria este rio muitos peixes, como são vôgas, escallos, trutas em quantidade e de bom tamanho, desde o seu nascimento the ao sitio de Parada de Bouro e ahi chegará já a vir lampreas, e salmões, os quaes se tem jà pescado no mesmo rio mais assima e por baixo desta freguesia de Ruivães.

Não há nelle pescarias nesta freguesia, nem nas immediatas ao pé della, só sim curiosos que usa da cana e chumbeira, trelhos, e algua rede de barrer para caçar os ditos peixes, não sendo nos meses prohibidos por direito.

Nesta freguesia, nem nas immediatas por onde passa o dito rio, não he este coutado por pessoa algua, mas sim para quem quizer caçar nelie por todo este.


Não tem o dito rio margens que se cultivem desde que nasce the que finaliza no mar, nem também arvoredo de fructos ou silvestre, nem as agoas delle tem virtude particular.


Sempre o dito rio teve, como tem o nome de Câvado.


Corre este rio Cãvado no mar na barra da villa de Esposende e de São Paio de Fão.


Neste sitio de Ruivães, e daqui para sima, e para baixo the ao sitio da Parada de Bouro distante tres legoas desta freguesia, não pode ser navegável pelos muitos fraguedos que tem e cachoeiras, que impedem o ser navegável, e ainda que os não tivesse só o podia ser barcos, por ser estreito e incapaz de embarcações maiores.


Tem o dito rio duas pontes de pedra em todo elle, hua na villa de Prado, e outra na villa de Barcellos, e hua de pão no lugar e freguesia de Fiães do rio, outra na da Villaça, e não tenho noticia de outra mais alguà.


Nesta freguesia de Ruivães lemitte della não tem o dito rio moinhos, lagares de azeite, noras, ou outro engenho algum.


Em nenhum tempo se tirou ouro das arêas do dito rio.


No enquanto o dito rio corre despinhado the Parada de Bouro, não se uza das suas agoas para a cultura dos campos, por se não poder tirar agoa para elles.


Tem o dito rio de distancia desde o seu nascimento, the que desinvoca no mar, desasete legoas, e passa pella villa de Prado, e pella villa de Barcellos, e por São Paio de Fão, que fica abaixo desta freguesia de Ruivães.

He o que posso informar, e o que averigoei na presente materia e por verdade que asigno aqui com os Reverendos Parocos vezinhos de S. Gens de Salamonde e de S. Vicente de Campos.


S. Martinho da Villa de Ruivães de Maio 23 de 1758.

O Reitor de Ruivães, o padre Miguel Barroso Dias.

Francisco Xavier Ferreira de Azevedo, o abade de S. Gens de Salamonde Francisco Xavier Ramos.




Para ler o texto na integra: (http://docs.google.com/Doc?id=ddgcwp8m_2gtmbrcds)




Actualizado em 22 de Outubro de 2014: inclusão do texto na íntegra. Na anterior plataforma não cabia no artigo, daí se ter colocado a ligação para o documento anexo.