sábado, 27 de dezembro de 2025

«Senhora da Saúde em Vale»


 


        


Que bem nos faz regressar às nossas origens e vivenciar as práticas atuais, cujas origens remontam a décadas passadas, que foram a afirmação do povo e se perpetuaram no tempo em homenagem aos seus criadores!..


Celebrou-se, nos dias 12 e 13 do mês de Julho do corrente ano, mais uma edição da festa em honra da Senhora da Saúde no lugar de Vale, União das freguesias de Ruivães e Campos, proporcionando motivo para atrair forasteiros e dar alguma vida a uma povoação que tem assistido à perda da sua gente e consequentemente ao abandono o seu principal recurso, a agricultura.
Caminhava para o fim a dé­cada sessenta do seculo vin­te, quando o povo do lu­gar de Vale se uniu para, a exemplo dos demais lugares da freguesia, também reivin­di­car a sua capela, esta em honra da santa que tinha re­si­dência no lugar, mas numa ca­pela particular anexa à ca­sa do Corvo, o que condi­cionava a sua adoração.
Ainda me lembro do tempo em que a imagem da santa era disponibilizada pe­los proprietários daquela ca­sa, transportada de Vale pa­ra a vila a fim integrar a procissão nas festas que se realizavam e que ainda se realizam no mês de Agosto em honra de Santa Bárbara, Santa Teresa, São Cristóvão e São Sebastião. Findas as festividades, regressava ao seu local de origem.
Resultou então que, como dizia Fernando Pessoa “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”, com a apro­vação da arquidiocese de Braga e a benemerência de proprietários locais, foi dis­ponibilizado o terreno pa­ra a edificação da capela e a criação de acessos; estes na altura muito rudimentares, in­gremes, em terra batida e poeirenta, mas que não fo­ram obstáculo à afirmação da­quele espaço como local da atração em dias festivos.
Naquela época, a fé era ti­da como um dos valores fun­damentais para o equilíbrio social, sendo a crença de­terminante na obtenção da gra­ça divina para realização pessoal e espiritual. Por isso, foi fácil a mobilização para a concretização de tal propósito, reunindo-se verba através de peditórios e mão-de-obra dis­ponibilizada pela população local para lhe dar forma, co­mo aconteceu, vindo a mesma a ser inaugurada e dis­ponibilizada para o culto no ano de 1971.
Desde então para cá, o po­vo do lugar vem honrando a Santa no segundo fim-de-semana do mês de Julho de cada ano. Este ano não foi exceção, pese embora o afastamento das pessoas das questões religiosas, o abandono do mundo rural e o despovoamento do interior do país, mas o povo do lugar de Vale, sendo muito poucos, con­tinua resiliente e determi­nado em manter viva uma tra­dição que para além do sim­bolismo que representa, ho­menageia aqueles que lhe deram origem.
O lugar de Vale, nos dias que correm, não terá muito mais do que trinta habitantes re­sidentes, mas a garra, o em­penho e determinação de um povo não se mede pe­la quantidade, mas pela qua­lidade e, pese embora os condicionamentos de recur­sos financeiros, naturais dos tempos que correm, a comissão de festas não deixou de cumprir a tradição e assim per­mitiu que as ruas do lugar de Vale fossem mais uma vez percorridas em ato de fé, por gente que acredita.
A capela da Senhora da Saúde no lugar de Vale está si­tuada por cima do lugar, com vistas sobre a povoação, abrangendo a vila de Rui­vães, os lugares de Es­pin­do e Zebral e parte norte da serra da Cabreira. Apre­sen­ta vista panorâmica de en­cantar, e tem muito bons acessos. É local muito digno de ser visitado. Aliás, o lugar de Vale oferece locais panorâmicos de exceção, que merecem ser visitados.
Fernando Araújo da Silva
2025-07-30

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