Setembro chega com a azáfama das colheitas, trazendo aos agricultores a canseira de mais um ciclo agrícola que se completa. É tempo de recolher os frutos do trabalho de um ano inteiro — e, na nossa região, o ponto alto é, sem dúvida, o das vindimas, particularmente em Espindo.
A uva, esse fruto generoso que o sol fez despontar na primavera, amadureceu ao longo do verão sob o calor do Astro-Rei. Agora, dourada e pronta, convida à colheita, para dar origem à bebida maravilhosa que, há séculos, acompanha as nossas refeições.
Chegou a hora de a colher. Em tempos idos, era preciso mobilizar verdadeiros exércitos de homens e mulheres, tesoura em punho, que percorriam as leiras das vinhas, apanhando cacho a cacho com cuidado e destreza. Era um ritual que envolvia toda a comunidade.
Longe vão os tempos em que tudo era feito à mão: o corte da uva, o transporte às costas ou à cabeça até às dornas, levadas depois em carros de bois para os lagares. Quando o lagar estava cheio, grupos de homens saltavam para dentro e, durante horas, pisavam os cachos com os pés — “calcar o vinho”, como se dizia. Entre cantigas e anedotas, o trabalho árduo ganhava leveza.
Hoje, os tempos mudaram. As máquinas — tratores, esmagadores e outras — vieram facilitar muitas destas tarefas. Depois da colheita, as uvas são esmagadas mecanicamente e deixadas a fermentar com o engaço, durante alguns dias, para afinar a cor ruiva do vinho novo.
Contudo, a desertificação e o abandono progressivo das terras provocaram a perda de muitos vinhedos. Felizmente, em Espindo ainda há — quase contados pelos dedos — lavradores que mantêm viva a tradição. É o caso da Casa do Brás que, sob a égide do Plano de Atividades da AJA Espindo, continua a vindimar como dantes, honrando os gestos dos antepassados. Ao Albino, à Albina, à Palmira e ao André, o meu sincero agradecimento, por mais este ano.
Passados 12 a 15 dias, quando a fermentação termina, faz-se a trasfega do lagar para as pipas, onde o vinho repousará até ser provado no São Martinho, como manda a tradição, e, depois, consumido ao longo do tempo.
Ano após ano, entre podas e preparações, nasce assim o vinho que anima quem o faz e alegra quem o bebe.
A Terra o dá, o homem celebra.
Guilherme Gonçalves (Casa do Brás – Espindo)
2025-10-29




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