sábado, 27 de dezembro de 2025

«As vindimas em Espindo»


 




Setembro chega com a azáfama das colheitas, trazendo aos agricultores a canseira de mais um ciclo agrícola que se completa. É tempo de recolher os frutos do trabalho de um ano inteiro — e, na nossa região, o ponto alto é, sem dúvida, o das vindimas, particularmente em Espindo.
A uva, es­se fruto generoso que o sol fez des­pontar na primave­ra, amadureceu ao lon­go do verão sob o calor do Astro-Rei. Agora, dourada e pronta, con­vi­da à co­lhei­ta, para dar origem à bebida maravilhosa que, há séculos, acompanha as nossas refeições.

Chegou a hora de a colher. Em tempos idos, era preciso mobilizar verdadeiros exércitos de homens e mulheres, tesoura em pu­nho, que percorriam as leiras das vinhas, apanhando cacho a cacho com cuidado e destreza. Era um ritual que envolvia toda a comunidade.
Longe vão os tempos em que tudo era feito à mão: o corte da uva, o transporte às costas ou à cabeça até às dornas, levadas depois em carros de bois para os la­gares. Quando o lagar es­tava cheio, grupos de homens saltavam para dentro e, durante horas, pi­savam os cachos com os pés — “calcar o vinho”, como se dizia. Entre cantigas e anedotas, o trabalho árduo ganhava leveza.
Hoje, os tempos mudaram. As máquinas — tratores, esmagadores e outras — vieram facilitar muitas des­tas tarefas. Depois da co­lheita, as uvas são esma­gadas mecanicamente e deixadas a fermentar com o engaço, durante alguns dias, para afinar a cor ruiva do vinho novo.
Contudo, a desertificação e o abandono progressivo das terras provocaram a per­da de muitos vinhedos. Fe­lizmente, em Espindo ainda há — quase contados pelos dedos — lavrado­res que mantêm viva a tradi­ção. É o caso da Casa do Brás que, sob a égide do Plano de Atividades da AJA Espindo, conti­nua a vindi­mar como dantes, hon­rando os gestos dos antepassados. Ao Albino, à Albina, à Palmira e ao André, o meu sincero agradecimento, por mais este ano.
Passados 12 a 15 dias, quando a fermentação ter­mi­na, faz-se a trasfega do lagar para as pipas, onde o vinho repousará até ser provado no São Martinho, como manda a tradição, e, depois, consumido ao lon­go do tempo.
Ano após ano, entre podas e preparações, nasce assim o vinho que anima quem o faz e alegra quem o bebe.
A Terra o dá, o homem ce­lebra.
Guilherme Gonçalves (Casa do Brás – Espindo)
2025-10-29

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